Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)
Eis um causo de amor e dor. Jacinta, moça prendada e
estudiosa, era admirada por José, rapaz dotado de bom caráter, trabalhador,
porém não possuía recursos financeiros. O pai da donzela queria que a filha
namorasse Ricardo, jovem arrogante e filho de um rico empresário; não tinha
boas intenções. Jacinta, sem desejar magoar o seu grosseiro genitor, e ouvindo
as ponderações pacificadoras da mãe, cedeu e, sem esquecer José, passou a
namorar o vaidoso jovem rico. José, humildemente, recolheu-se pensando que
tinha caído no esquecimento da triste moça. Por sua vez, o interesseiro pai propôs
o noivado da filha com Ricardo. Este concordou e marcou para o final do ano,
cerca de seis meses, o enlace matrimonial. “Seu” Chico, orgulhoso, vendeu uma
pequena propriedade rural para custear a festa de casamento, o enxoval e a
confecção do vestido da noiva. Passaram-se os dias. Jacinta, apesar de gostar
de José, mantinha-se fiel a Ricardo aguardando o dia do casamento. Vivendo às
custas do pai, o “rabo de burro” (expressão usada no Ceará há aproximadamente
60 anos) era assíduo frequentador dos prostíbulos da cidade, explorando
infelizes mulheres, e também um contumaz alcoólatra. Certo dia, antes do
matrimônio, apareceram na casa do “Seu” Chico duas mulheres levando documentos
mostrando que Ricardo era bígamo. O velho tomou um susto, teve um infarto, não
resistiu e morreu. Jacinta e sua mãe denunciaram Ricardo. Apesar do dinheiro,
foi julgado, condenado e preso. José reaproximou-se de Jacinta e, com amor,
conforme as Leis de Deus e dos homens contraíram núpcias. A vida, às vezes, é
assim.
(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do
Ceará.
Fonte: Diário
do Nordeste, Ideias. 30/9/2016.
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