O Departamento de Fisiologia e Farmacologia
deveria passar por uma ampla reforma; quando a Prefeitura da Universidade
confirmou a demolição dos muitos compartimentos, o Professor Recamonde Capelo,
de pronto, cogitou a possibilidade de construir uma “maloca” para uma
prestadora de serviços.
Tratava-se da mais necessitada servente da
Fisiologia, com seis filhos e sem um teto onde morar; para o popular Capelo,
seria fácil obter dos escombros o material, reciclando-o, a fim de construir
uma casinha para dita senhora. Com uma “vaquinha”, corrida entre os docentes, e
o reaproveitamento dos entulhos da Prefeitura da UFC, o Prof. Capelo pode erguer
uma casinha, em um pequeno terreno por ela “grilado”, localizado no bairro
Siqueira. A casa era coberta com telhas e possuía três cômodos, e até uma
cacimba foi escavada para garantir o suprimento de água.
A posse do novo imóvel foi o bastante para a
servente mudar de “status” social, que, de imediato, “casou-se” com um soldado
da Polícia Militar. Como consequência, o Departamento viu-se privado do serviço
da trabalhadora, para a quem o trabalho já não convinha, por se sentir com uma
certa estabilidade, ainda que sem emprego.
Depois de algum tempo de ausência, o Prof.
Capelo solicitou à secretária do Departamento, para que readmitisse a servente.
A razão do retorno foi porque o “marido” permutara a casa por um “fusquinha 66” , e, voltando de uma farra,
os ocupantes do veículo despencaram da ponte sobre o rio Siqueira, pondo fim no
único bem material do casal. Tudo voltou ao que era e, de novo, o “cor bovis” socialista
do Prof. Capelo quebrou lanças para a reintegração da ex-empregada, o que de
fato ocorreu.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Capelo, o mão-aberta. In:
SOBRAMES – CEARÁ. Semeando cultura. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão,
2016. 320p. p.234.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos
e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.75-80.
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