Por jornalista Tarcísio Matos
Semente de cachorro
Não se abra do nome: Bruce Litro, “homenagem de pai ao grande ‘astista’
e instrutor de artes marciais e cineasta dos EUA” - explicava, quando indagado
a respeito. Como a molecagem cearense não perdoa, acrescentou-se o fuleiro
epíteto “de Cana”. E por “de Cana” Bruce Litro ficou mais conhecido. Até se
acostumou:
- Bruce Litro de Cana, às suas ordens!
Cabido como só ele, contou-me as últimas. E a mais nova é:
tecnologizou-se, a ponto de considerar-se um ministro. Meteu-se numa ruma de
grupos do Whatsapp. “Meu prezado, isso aqui é a melhor radiadora do mundo, dá e
recebe recado como nenhum pivete. Dos novos grupos criados aos milhares todos
os dias, frequento mais de 20. Tô dentro, tô no jogo! Tá pôde?!?”
Da relação dos grupos onde “de Cana” mete a fuça (mostrou-me um a um com
os devidos comentários), seis chamam a atenção até da ONU. O primeiro da lista:
“Deus me livre dum caba desse nos meus quarto”, composto pelos colegas de
firma, os tais “oitavados”, “avantajados”, “ajumentados”...
Demais estranhezas, de horrorizar o dono do facebook, citou “de Cana”:
“Magote de corno lá de nós” (povo da família por parte de pai); “Os lambe-vara
de cima” (pessoal de Guaramiranga); “Lombriga em lorto de pobre já nasce morta”
(colegas lisos do colégio Joaquim Nogueira); “Netos de vô Jurandir Uma Dentro e
Uma Fora!”(netos do vovô Jurandir lá dele, intra e extra-casamento).
Um, porém, creio demais impagável - para o qual me convidou a
participar: “Frequentadores do Cabaré da Chaguinha de 1971 a 1982”. Exibindo os
nomes, dizia quem era quem:
- Esse, sacristão, jurava morrer cabaço; aqueloutro, um professor de
Educação de Educação Artística vasectomizado desde jovem, 12 filhos...
Um cão chamado cachorro
O prefeito de município do centro-sul fazia uma bela administração. À
oposição rancorosa e despeitada, cabia procurar um pezinho pra falar mal. Eis
chegada a ocasião de os adversários lavarem a alma: a inauguração da praça da
Matriz, de belíssima fonte d’água, formando piscininha bacana, de três por três
metros. Hora de ir lá botar catinga, queimar o filme do gestor.
Marmota maquinada: botar um cachorro sarnento, magro, fedorento e sujo
dentro da piscininha cheia de água da fonte que ali havia. E tirar fotos e
viralizar nas redes sociais. Pior é que o viralatas era doido por banho. Obrou
e urinou à vontade no equipamento. Tudo já no face, twitter, whatsapp. E a
legenda: “Escândalo! Olhe pra onde vai o nosso dinheiro! Pra lavagem de
cachorro! Pode?”
Sabedor de onde partira a tramoia, o prefeito esclareceu na rádio quão
inócuas eram investidas do gênero, assim se pronunciado:
- Minha gente, aquele cachorro foi plantado na piscina!
Arre égua do macho!!!
Recepção do hospital particular que mais parecia a Disneylândia... Ali
estávamos com mamãe prum raio X de pulmão; bichinha esperando na cadeira de
rodas, de ouvidos atentos. Do lado, dois senhores a comentam pormenores da
gabaritada casa de saúde. Que o centro cirúrgico deveria ser verde, o quadro
clínico acrescido de mais doutores, número de leitos triplicado... Entusiasmada
com a dupla, mãe pergunta se eram diretores. O mais lascado explica:
- Não, somos doentes mesmo! Crise de hemorroida braba!
Fonte:
O POVO, de 14/05/2016. Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos.
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