Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Por que tal termo chama-se
assim? Consoante papai Hipócrates, a aludida doença semelhava o caranguejo,
movendo-se, anarquicamente em todas as direções. Eis o porquê. Releva notar
outrossim, ser o câncer (7 milhões/óbitos/ano) caracteristicamente o 4º signo
do zodíaco, implicando fatalismo e superstição, sentimentos sancionados pela
história da humanidade. Poucos étimos (palavras) têm tamanha carga semântica
(de sentido), quase nenhuma ostentando o mesmo instintivo tabu. Não é
normalmente mencionada, mas apenas sugerida, com eufemismo (de maneira menos
incisiva), como “aquela doença”, “pertinaz moléstia”. Referido vocábulo ainda
enseja dó, compaixão, o asco quase do “pathós” social, equivalente da lepra, da
peste, tuberculose, da sífilis, e hoje da AIDS, desde o surgimento desta no New
York Hospital, dezembro, 1980 (vide “O POVO”, 27/05/2015).
Os leitores mais atentos
recordarão estas considerações iniciais, desde meu livro homônimo – edições
UFC, 1984 – e de “Quem tem medo de caranguejo”, neste espaço, 26/10/2016.
Contudo apraz-me subscrever Machado de Assis: “Há conceitos que se devem
incutir na alma do leitor, à força de repetição” (In “Dom Casmurro”, 1900).
Lê-se no “Talmude”, a bíblia dos judeus: quem vive estudando mas nunca repete o
que aprendeu, se parece com quem vive a semear mas nunca ceifa (ceifar: segar,
cortar). O câncer colorretal quanto mais estudado mais carece colhido antes de
florescer.
Em artigo anterior (“Julho
vermelho”, 03/01/2018), aqui inserido, referendei do meu livro acima o Prof.
Daniel Fisk Jones, ao afirmar não haver diagnóstico mais preciso do que o desta
lesão, contudo ainda não surpreendida com a frequência desejada. Malgrado meios
mais acurados de reconhecimento a tempo, este nem sempre é oportuno, hábil. De
frequência ascendente, o tumor representa cerca de 15% dos cânceres nos EUA; no
Brasil, em 2010 ocorreram 29 mil casos, com + 11 mil óbitos. Temos ratificado a
possível confusão com as hemorroidas iniciais, aliás, etimologicamente fontes
maiores de sangramento. Essas derivam dos radicais gregos “haima” = sangue
“rhoos” = fluxo. Portanto, sangramento retal pode ser por câncer do reto
associado àquelas, ou de “per se”! Vale lembrar que o toque retal constata esta
neoplasia até 10cm (80%) da margem anal.
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 26/05/2018.
Opinião, p.18.
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