Por Weiber Xavier
(*)
A saga por um leito de terapia
intensiva tem sido uma batalha diária para muitos pacientes. As UTIs criadas
com o objetivo de dar suporte clínico, tecnológico e humanizado ao doente
crítico com potencial de recuperação e, portanto, um lugar de vida, tornou-se
um privilégio de poucos e muitas vezes com sua função primordial deturpada,
tornando-se um lugar sem esperança.
A falta de estrutura para o
doente grave nos postos de saúde, emergências e UPAs é gritante. Muitos são
admitidos nas UPAs e não conseguem ser transferidos a tempo para as UTIs e
permanecem muitas vezes dias, inclusive entubados em ventilação mecânica, em
ambientes improvisados. Veja a situação das emergências dos maiores hospitais
públicos do CE para constatar a situação de guerra nos corredores repletos de
doentes graves sem ter para onde ir. Essa espera de dias por um leito de UTI é
absurdamente angustiante.
Além da falta de leitos,
equipamentos e profissionais qualificados soma-se a questão agora da
judicialização. As prioridades técnicas estabelecidas para normatizar a
admissão dos pacientes graves, infelizmente, muitas vezes são atropeladas pela
judicialização, cada vez mais presente nessas decisões que fogem do médico
responsável pela admissão do paciente grave em UTI.
A população excluída que
usualmente não tem acesso a um bom advogado, fica preterida por quem tem acesso
a uma demanda judicial. É difícil para uma família entender que o seu filho
jovem, vítima de acidente com politraumatismo, enquanto grave, permaneceu num
corredor à espera de cuidados intensivos, e que esse leito foi disponibilizado
anteriormente para um paciente sem perspectiva de recuperação, mas por meio de
uma liminar judicial.
Para onde vão os doentes graves
quando a porta de entrada das emergências e UPAs já se depara com corredores
lotados? Certamente não irão a Roma nem aos Palácios do Bispo nem da Abolição.
Essa pergunta angustiante é diariamente feita por aqueles profissionais que se
dedicam aos doentes graves e, infelizmente, não encontram resposta nem
interesse em ser atendida.
(*) Médico
e professor de Medicina da UniChristus.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/5/2018. Opinião. p.18.
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