Por jornalista Tarcísio Matos,
de O Povo
Todo Chico tem um dono
Zé de Goré,
vaqueiro-filósofo. Sempre a nos ensinar verdadeiras maravilhas, com a
brejeirice e a simplicidade do iniciado. Em historinha de visagem que
surpreendeu papudinho nas cercanias do cemitério, Zé citou seis distintos
personagens Chico em dois minutos de contação. Chico de Clotilde (o morto –
espírito comunicante); Chico de Zé de Berenice (o vidente bebinho assombrado);
Chico de Lopinha (o coveiro); Chico de Chica Gertrudes (testemunha também
melada); Chico de Dona Mocinha (vendedora de flores).
Perguntei por que
não dizer, dos protagonistas, que são apenas Chico. Goré, do alto da sapiência
cósmica, ensina:
- É tanto Chico no
mundo, meu amigo, que carece dizer quem lhe é pai ou mãe.
- Traduzindo...
- Todo Chico tem um
dono!
Trabalhada à distância
Bebelzinha, três
aninhos de angelical pureza. Ouvindo mamãe reclamar-se da porcaria que o marido
(o pai querido de Bebelzinha) deixara no banheiro (obrara e não dera descarga),
esturra, vocifera, detona ao ver aquilo lá boiar:
- Olha a merda tu
fez, Joaquim! E a catinga no mundo, tá pôde?!?
A menina, brincando
de desenhar o Ben 10 na sala, responde ingênua:
- Aqui merda não
fede, mãe! Vem pra cá pra senhora ver!
Mercado do Bico
Nesses tempos de
crise econômica, dormir no ponto à moda jumento em BR é meio grau. Rizomar de
Tidioniz (Tio Dionísio), conhecido pela indiferença ao trabalho, quis ganhar
ponto com o avô Das Chagas, caba virtuoso no cabo dum formão. Fez-interessado
em ocupação qualquer. Pediu ao velho lhe ensinasse o que fazer, a começar por
algo leve.
- Queria fazer um
bico, vô!
Conhecido pela
brabeza no trato com gente fulerage, Das Chagas liquidou:
- Não ‘seje’ por
isso! Bote os beiços assim pra frente, como se fosse beijar... Viu? Tá feito o
bico!
Maresia na serra?
E a geladeira de
dona Vera carcomida de ferrugem com três anos de uso. Diz ela que foi a cara
feia do marido, que comprou o eletrodoméstico a contragosto, preferia esfriar a
garrafa d’água detrás do pote, na cozinha da casa humilde em Guaramiranga. O
marido tentou explicar:
- A maresia na
serra tá de arrombar!
- Serresia,
Joãozito, serresia! – respondeu ela, cética.
Gênio!
Jair Morais, agora
dando uma de adivinho do presente e do futuro. Diz que vê, ouve e escreve sobre
o não acontecido ainda. E ainda sonhos, premonições, viagens ao passado. A neta
Jairzinha, crente que é vero o dom do vovô. Meio que frescando, pede que Jair
diga:
- O que sucedeu de
mais importante no exato dia 15/08 de 1.508 às 15h8?
- No Brasil ou na
Europa? – redarguiu o Poeta dos Cachorros, olhos cerrados.
- Aqui...
- Tudo o que está
acontecendo nesse justo momento, só que noutro bairro.
Fonte: O POVO, de 20/08/2016.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos.
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