Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Em se tratando de preconceito, tenho mais de
cinco mil anos de experiência, sou judeu e nordestino.
Observo, com apreensão, a mídia noticiar a
preocupação com a violência contra as mulheres. Estar na moda, não poucas
vezes, é entrar no time do politicamente correto.
(Politicamentum Correctum significa, literalmente, agir como um
político). Em outras palavras, trata-se de uma medida criada por políticos para
fazer com que a população não entenda o alcance das suas malandragens, como por
exemplo: o Mensalão, Lava-Jato, etc. (Confira no Google).
O termo ‘misoginia’ vem do grego: horror a
mulher. O horror à mulher negra, cafuza, branca ou de qualquer tonalidade é
mais antigo do que o antissemitismo, melhor dizendo: antijudaísmo. Mas, vamos
aos acontecimentos. Desde a semana passada a Mídia e as mulheres e os homens
(as pessoas), estão em polvorosa psíquica com as agressões femíneas e
noticiários atinentes. Verdade. O que acontece no Brasil, se não der na Globo,
não aconteceu, mesmo com o advento das mídias sociais móveis e imóveis.
Imaginem vocês, quando o acontecimento ocorre no interior novelesco daquela
cadeia midiática.
Na mesma semana passada ocorreu, no bairro da
Boa Viagem, Recife, crime de morte de uma jovem e nem parece que foi no mesmo
País. Pelo que sei o episódio, apesar de assustador e terrível, não teve
direito nem a uma repercussão do nível da dedicada a uma cantada mal abiscoitada de um ator Global.
Diante de tal episódio, o meu local de
trabalho psicoterápico (setting), no
Recife, foi invadido pelo medo da violência contra as mulheres. Apareceram
mulheres jovens, idosas, e avós e avôs dos meus antigos pequenos pacientes,
quando eu exercia a Pediatria. Foi uma invasão de grandes proporções. Procurei
acalmar todos, mas não creio tê-lo conseguido. A violência contra a mulher é um
fato, apesar dos pequenos ou grandes avanços alcançados, segundo dizem alguns e
outros concordam, com um gesto de torcer o nariz.
Trabalhando e impressionado com esses temores
generalizados, peço vênia para escrever sobre um fato que me veio à memória.
Quando exercia a neonatologia (ramo da
pediatria que cuida dos recém-nascidos), creio que a partir da década de
sessenta, notei que famílias com mais de três filhos foram escasseando... Falo
da classe média urbana do Recife e adjacências. Caso o primeiro rebento fosse
do sexo masculino, quando surgia o segundo (não importando se menino ou menina),
a solicitação/ordem do marido, era quase sempre: “ligar as trompas da minha
esposa”.
Ao contrário, quando nasciam meninas, a prole
era grande... tentativas várias? Fracassadas muitas. A culpada era a mulher,
quando o que determina o sexo é o espermatozoide. Até chegar o Herdeiro,
conheci matrimônios com mais de oito irmãs.
Com o advento da ultrassonografia a coisa
mudou de figura, para os médicos. Passou-se a acompanhar o embrião e o feto
desde a concepção. O pré-natal modificou-se e os avanços foram e são tantos que
é impraticável enumerá-los. Um fato comum, mas pouco mencionado, trazido pela
ultrassonografia, é que saber/conhecer o sexo do bebê antes do nascimento
facilita a escolha do enxoval, azul ou cor de rosa, a decoração do quarto e até
a escalação dos padrinhos e os planos para a festa de batizado.
Do ponto de vista tecnológico, as coisas mudaram. O que
permaneceu foi a cachimônia, que precisa ser modificada. Isso leva muito mais
tempo do que os avanços tecnológicos. Mudar mentalidade, pensamento,
discernimento, pensamento, intelecto, inteligência,
percepção, razão, senso, e a mente é que é complicado. Isso acontece quando a
tecnologia se antecipa à cultura... E é muito comum.
(*) Professor Titular da Pediatria
da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União
Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos
(ABRAMES). Consultante
Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros
neonatologistas brasileiros.
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