Por José Jackson
Coelho Sampaio (*)
A experiência teatral
tornou-se quadrado esquema de galãs de novela e rala densidade crítica, assim
perdi paixão. Mas, neste mês fui ao teatro, provocado pelo nome, "Para frente, o pior",
e o registro de teatro laboratório do Porto Iracema das Artes, pela Companhia
Inquieta. Foi insólito o vivido.
Agrupamo-nos por trás do
prédio, para entrada pelo palco, com a plateia vazia. Teatro do Absurdo, Living
Theater e oficina propunham estas fusões palco/plateia, porém, trilhei mais os
Teatros de Protesto, do oprimido e marginal, pois a ideia de arte engajada em
transformar a realidade me seduzia. Entretanto, não esqueci a arte-prazer,
denúncia e convocação, sem bula.
No tempo da cena, a
percepção inicial foi de que, embora a pesquisa original fosse "um corpo em final de festa",
não havia festa, só repetição, ida-vinda, recusa ao significado, expressão
caricata da "vida como ela é" e do processo de alienação, articulando
leituras da antipsiquiatria e do marxismo.
Pela lateral da plateia os
atores sobem ao palco e o jogral indica a busca da vida sem certo/errado,
metáfora, ideologia, só fluxo de coisas entre coisas. Pela lateral da plateia
os atores somem do palco, deixando órfãos os assistentes. No ínterim, seis personas,
ligadas por braços e mãos, contorcem-se para fugir da liga, arfantes. Uma
assume a liderança, para logo ser arrastada, exausta.
Os jovens atores se
entregam plenamente, com disciplina e paixão, para explicitar o vazio e a
impotência, mas demonstram as impossibilidades disso. Militância, talvez cega,
e força, talvez bruta, transformam-se em massa de drama, e se há drama, há
sentimento. No fundo da alienação emerge o espasmo de um sentido. O abandono
dos assistentes no palco vazio induz reflexão sobre aparências e ritos. A liga
do grupo impede que cada indivíduo desabe. Mas, grupo fetichizado, sem gestão
democrática das perdas, parece produzir apenas o fascismo da sobrevivência.
Numa terça-feira de julho,
no Brasil da corrupção por si mesma e dela usada para justificar golpes,
violenta perda de direitos após breve primavera e ódios ideológico-culturais
por sobre exploração econômica e luta de classes, aconteceu esta excruciante
vivência da dor mais profunda.
(*) Professor
titular de Saúde Coletiva e Reitor da
Uece.
Publicado. In: O
Povo, Opinião, de 28/07/18. p.17.
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