A melhora da morte
Também chamada de “visita da morte”, a dita
“melhora da morte” é episódio traiçoeiro. Algo do tipo “faz que vai e não vai,
mas (o moribundo) acaba fondo”. A pessoa (candidato a finado e/ou o povo da
família) pensa que é uma coisa e é outra. Ou melhor, o exânime tem uma súbita
recuperação e, quando todos já comemoram... o sujeito bate a caçoleta! Ou seja:
agonizante cria lasquinha de ânimo (derradeiro ânimo), acelera, acelera,
acelera e... para de vez! Babau!
Tomando
a ideia de “melhora da morte” pras coisas do afago caliente (furufunfado de
alcova), falemos de Zezé (70) e Joaninha (68) do Pau Branco – Pau Branco é onde
moram. Não sei se posso chamar de chantagem aquilo. Fato é que, já fraco das
potências genésicas, certa madrugada o colega acorda “armado” até os cabelos da
cabeça e acha de conclamar a mulher pra dar vazão à irresistível vontade
sexual.
-
Joana! Ô, Joana! Avia!
-
Hum!!! – ela no quinto sono.
-
Acorda! Tôque num guento mais!
-
Pois corra pro banheiro e arreie – achava Joaninha que o homem queria obrar.
-
Prestenção! Eu tô em ponto de bala!
Com
gosto de gás, o cabavéi se esfrega nos costados da mulher - que não
experimentava aquilo havia já duas décadas. Enferrujada, sonolenta...
-
Hoje não, meu amor!
-
Home, aproveite enquanto dura!
-
Não dá pra esperar até amanhã de noite?!?
-
Não!!!É agora ou nunca!
-
Por que a sangria desatada?
-
Porque essa é a ‘melhora da morte’, mulher!!!
-
Assim sendo...
Uma rapariga no pescoço
Dessas
pensõezinhas de beira de estrada que qualquer piado todo mundo escuta. E eu
hóspede, escornado numa rede, descansando febril do almoço de fava, a ouvir o
vizinho a gritar aloprado.
-
Claro que eu tenho outra! E diferente de tu, bichavéa amarela e seca, ela é
linda!
Égua
do macho! Se fosse mulher dele, mandava-lhe à merda. Onde já se viu, assim, na
bucha? Eu ouvia tudo, imaginando a dor da criatura com quem ele discutia.
Pensei na minha irmã, ouvindo isso do cunhado. Detonou mais:
-
Homem nenhum esquece o que ela faz num pescoço...
Agora
pronto, era dum chupão que ele falava. Com essa, adeus possibilidade de
reconciliação. Pois vem a seguir o golpe de misericórdia.
-
Infelizmente tu não é a outra que deixei lá, nó cego!Já vou! Tichau!
Saímos
simultaneamente dos quartos. Queria ver o elemento e a coitada que tanto
maltratava. Abriu a porta dele, eu a minha. Vi então que se tratava dum doido do
juízo, que segurava firme uma gravata velha, feia, rasgada, “imbuluada”e
gritava:
-
Vou te rebolar no mato, fulerage!!!
A riqueza do liso
Da próxima vez,
vou falar da Clínica de Repouso pra Corno Dr. Macaxeira, que Jair Morais
inaugura em breve e pede que eu seja o diretor financeiro.
Fonte: O POVO, de 10/06/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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