Por Odorico Monteiro (*)
O processo saúde-doença na caminhada
civilizatória é marcado pelo surgimento de epidemias que ao longo da História
são verdadeiros desafios. Quando a vida humana está em jogo é momento também
para uma reflexão sobre a importância da Ciência e do Sistema Único de Saúde
(SUS). Quanta diferença faz um sistema universal de saúde diante de uma ameaça
como o coronavírus?
Em um passado
recente, o mundo enfrentou vírus poderosos como o HIV, H1N1 e a zika. Nesses
casos, ficou evidenciada a eficiência do SUS em adotar medidas eficazes. O
Brasil é hoje considerado referência mundial no enfrentamento à aids. Somente
no caso do H1N1, metade da população brasileira foi vacinada rapidamente,
demonstrando a eficiência do programa de imunização do SUS e a capacidade de
produção de vacinas do Instituto Butantã.
E foi também
uma cientista brasileira, a pesquisadora da Fiocruz Celina Turchi, que detectou
o vírus da zika e a relação deste com a microcefalia. Achados que a colocaram
entre as cem pessoas mais influentes do mundo em 2017, segundo a revista Time.
Esses fatos vão de encontro a medidas recentes do governo federal em cortar
recursos para a pesquisa científica e congelar por vinte anos os investimentos
no SUS.
Sabemos que o
coronavírus tem uma capacidade de propagação rápida, com cerca de 20 mil
pessoas infectadas no mundo e mais de 400 mortes até o momento. A vacina não
deve vir a curto prazo, restando ao País manter forte sua vigilância em
fronteiras e aeroportos. Nos casos suspeitos, adotar os protocolos da
Organização Mundial de Saúde e garantir o tratamento adequado aos pacientes na
rede pública.
Na outra ponta,
pesquisadores da Fiocruz, com a expertise centenária da instituição, analisam o
material coletado de possíveis infectados, em parceria com a Rede de
Laboratórios Centrais de Saúde Pública nos estados. Cientistas do mundo inteiro
unem-se nos estudos para conter o novo vírus. Na Itália, pesquisadores já
conseguiram isolar o coronavírus para estudo. A China constrói 2.600 leitos
hospitalares em tempo recorde e os demais países, inclusive o Brasil, estão
retirando seus cidadãos dos locais de circulação do vírus.
Essa força
tarefa mundial confirma a frase do virologista Richard Krause: "as
epidemias são tão certas quanto a morte e os impostos". Nesse caso, é
melhor podermos contar com a Ciência e o SUS.
(*) Médico, pesquisador da Fiocruz, professor da UFC e
vice-presidente do PSB-Ceará
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/2/2020. Opinião. p.17.
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