Por Lêda Maria Feitosa Souto (*)
É preciso clarear o motivo das igrejas católicas permanecerem aqui em
Fortaleza, em nome da pandemia do coronavírus, proibidas de abrirem suas
portas. Somente através dos canais religiosos de televisão, estamos tendo
acesso às práticas, à liturgia. Essa comunicação virtual já saturou. A mesma TV
nos mostra templos abertos, fora do Ceará, obedecendo os protocolos de
segurança impostos pelo governo, e indo adiante, ativando a alegria de
religiosos e leigos rezarem juntos, em todas as programações litúrgicas,
provando que oração e ação são como dois rios que se lançam no seio de Deus e
dele voltam para fecundar a humanidade.
Também, aqui, enquanto as Igrejas de outros credos estão em plena
atividade, com seus líderes trabalhando, impulsionando cultos, ajudas e
testemunho de fé para consolar e apoiar seus seguidores, nossos sacerdotes
cumprem, há meses, ordens de paralisação dos trabalhos, sacramentos e
celebrações. Alguns sofrem com isso, sabendo que não se pode ficar para sempre
no cimo da montanha, nem no Monte Tabor, sendo inclusive pressionados pelos
fiéis, estão celebrando missas às escondidas. E recebem punições e repreensões,
indiferentes de serem pastores de um só rebanho.
Quem pode negar que o desejo de nos encontrarmos na atmosfera das orações
e dos cânticos processados entre os altares, não atinge o íntimo de cada um,
levando-nos a mergulhar na paz? O próprio silêncio e a contemplação ali das
imagens dos santos e de Jesus Crucificado avivam o amor, a compaixão. Sabemos
que nossos sentimentos imitam um mar profundo onde não faltam momentos de
tempestades e calmarias, mas é tão bom encontrar missionários
"construindo" calmarias, proporcionando-os a contemplação conjunta
"do rosto do bem amado".
Se Cristo se une a nós especialmente pela eucaristia como não querer este
alimento? Se a liturgia da missa tem os elementos da salvação, se a adoração
ilumina o profundo silêncio da saúde e do encontro espiritual, se os demais
atos religiosos nos unificam com Deus, essa proibição de igrejas fechadas tem
que ser apagada, para cantarmos os salmos da aleluia e regressarmos a fonte do
acalanto espiritual e do recebimento dos sacramentos.
(*) Jornalista;
colunista de O Povo; membro
da Academia Fortalezense de Letras.
Fonte: O Povo, de 20/8/2020.
Opinião. p.18.
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