Por Daniela Nogueira, Ombudsman de O Povo
A
cobertura da campanha eleitoral passa a tomar conta mais fortemente dos espaços
de jornais, portais e redes sociais dos veículos jornalísticos. Antes dedicado
com vigor aos fatos relacionados à Covid-19, o noticiário se volta às eleições.
A pandemia não acabou - por mais que muitos de nós tenhamos afrouxado as
medidas de prevenção, seja por cansaço, seja por necessidade. Mas, nestes seis
meses, há muitas lições e reflexões a serem extraídas no Jornalismo e no
relacionamento com o público.
O teletrabalho, o "trabalho remoto", o home office, enfim, talvez esteja sendo a mudança
mais desafiadora para os jornalistas. Trabalhar de casa já é uma atividade
habitual para muitos - por escolha. Nos últimos seis meses, porém, virou
corriqueiro para outros tantos - por imposição. Como sempre digo nas conversas
de que participo nestes tempos: ninguém tinha uma Redação montada em casa, com
equipamentos à disposição para ficarmos conectados por muitas horas ou um
ambiente bacaninha para ser exibido despretensiosamente ao vivo.
Se a atividade jornalística já
exige a (quase) instantaneidade das informações, nos tempos de quarentena essa
cobrança foi ainda mais forte. E não permaneceu aí. Novos espaços surgiram para
tirar dúvidas do público, principalmente pelos canais digitais. Vídeos e
podcasts foram uma maneira mais didática e ágil que os veículos perceberam de
compartilhar as informações. Em detrimento do crescimento das plataformas
digitais, a quantidade de páginas dos jornais impressos diminuiu, seções foram
suspensas e anúncios cortados, consequência da crise do impresso que se desenha
há algum tempo.
A propósito, segundo pesquisa executada pela
Provokers, encomendada pela organização Luminate, 65% dos leitores de veículos
digitais no Brasil aumentaram o consumo de notícias. Desses, 83% dizem acessar
as notícias uma vez por dia pelo menos.
Histórias
É
certo que, ao longo de todo esse tempo, ouvimos muito do excesso de informações
a que estávamos expostos. Quem pôde se afastou por um tempo, porque o assunto
já tinha um apelo emocional por si. Lidar com a notícia de centenas de mortes
por dia e ver as imagens chocantes de abertura de covas e caixões saindo das
portas dos hospitais, além da repetição de uma série de cuidados preventivos,
não era algo amistoso.
A imprensa esteve, por alguns meses, entre
o limiar de fornecer as informações necessárias para o período delicado e ter a
sensibilidade de não criar pânico, com alarmismos. Acertamos muitas vezes,
erramos em outras tantas.
Acertamos quando
divulgamos os números de casos e mortes
(impactantes, mas necessários); quando interpretamos os dados divulgados, e não
apenas publicamos sem contexto; quando nos preocupamos em focar no Ceará, mas
alertar para o resto do País; quando expomos a situação dos hospitais e
profissionais da saúde, que precisaram de uma atenção especial; quando contamos
as histórias das pessoas. Jornalismo é isto - contar histórias.
Acertamos quando passamos
a estudar mais as pesquisas e a interpretá-las, chamando a atenção para o
jornalismo científico. A ciência, que tem estado no centro das discussões
públicas, necessita do jornalismo para chegar de forma didática ao público.
Temos mostrado que/como isso é possível.
O Jornalismo acerta, sobretudo, quando intensifica
seu papel de combate à desinformação. A pandemia ratifica que, entre as
principais dificuldades para combater as notícias fraudulentas, estão a
velocidade com que elas se alastram, a disseminação dessas mentiras nas redes
sociais e as formas de controle ainda frágeis. Quando o Jornalismo apura com
precisão, checa e mostra o certo, não há como refutar.
Erramos, entretanto, quando demos espaço demais à
politização do assunto, em detrimento do cuidado com a saúde pública; quando
intensificamos o sensacionalismo desmedido em torno de um assunto já tão
apelativo, seja por meio de títulos, seja pela repetição demasiada de fotos
violentas; quando demoramos a desmentir os boatos que corriam pelas redes
sociais (do chá que cura a Covid ao alho que previne), por exemplo.
O secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, em
entrevista publicada no O POVO (15/9/2020), comentou sobre erros e
acertos: “O que poderíamos ter feito melhor? O
mundo inteiro tem que reconhecer que desconhecia muita coisa da pandemia. (...)
A forma de comunicação inicial. O mundo inteiro pautou uma coisa chamada:
"não vá ao hospital, espere ter falta de ar".
Acho que o mundo errou".
Lidar com erros e
acertos exige de todos nós um esforço bem maior para aprender com todos eles,
principalmente quando há vidas envolvidas. Para o Jornalismo, que lida com
educação do público, é preciso nunca esquecer a força que tem no combate à
desinformação no meio de uma pandemia.
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