quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

MISOGINIA

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

Por que os homens têm tanto medo da emancipação das mulheres?

Misógino refere-se a um indivíduo que sente aversão, horror, desprezo, preconceito, ódio ou repulsa às mulheres. Palavra derivada de misoginia, tem sua origem das palavras gregas “miseó”, que quer significa “ódio”; e “gyné” mulher.

Na contemporaneidade, apesar de todos os avanços técnico-científicos, muitos homens continuam com sentimentos machistas e alguns chegam ao assassinato. Os assassinos em geral são os maridos, amantes, namorados, companheiros, etc. Tantos, que o assassinato de mulheres recebeu uma designação própria: feminicídio. Curiosamente, não se usa o termo ‘masculinicídio’….

Nomear o problema é uma forma de mostrar um cenário grave e permanente: milhares de mulheres são mortas todos os anos no Brasil. No ano de 2013 foram registrados 13 homicídios femininos por dia. A violência extrema não está no centro do debate público com a intensidade e profundidade necessárias, diante da gravidade do problema. Bastaria dizer que taxa de feminicídio no Brasil é a quinta maior do mundo. Os homens continuam, em sua maioria, criptomachistas (machista camuflado). Não é questão de riqueza, educação ou modernidade. A maioria dos machos humanos desde cedo ficam presos na gaiola do machismo

Por mais que os cegos ou os pós-modernistas insistam, a violência contra as mulheres, incluindo o assassinato, é parte da persistência do machismo. Um machismo que não para e assume novas formas. Assim como o camaleão, que leva a cor do lugar onde está para se integrar às cores do meio ambiente, uma legião de machos mudou de palavras, táticas e maneiras de se camuflar, mas não mudou de estratégia, nem de objetivo final: a hegemonia do macho sobre a mulher, como afirma o polemista Xavier Caño Tamayono em seu artigo “Neomachistas e Criptomachistas”. (https://www.connuestroperu.com/actualidad/punto-de-vista/12026-neomachistas-y-criptomachistas).

Em resumo, esses neomachistas ou criptomachistas fazem crer que se adaptam às mudanças, apenas para garantir que os homens continuem desfrutando de sua posição dominante sobre as mulheres.O avanço do neoliberalismo na América Latina e sua concepção minimalista de Estado e de democracia provocaram forte dicotomia entre Estado e sociedade civil. Nesse contexto, coube às organizações da sociedade civil assumir as lacunas deixadas pelo Estado no âmbito das políticas sociais.

O campo de ação das lutas democratizantes se estende para abranger não só o sistema político, mas também o futuro do “desenvolvimento” e a erradicação de desigualdades sociais tais como as de raça e gênero. Agora mesmo na Grã-Bretanha, com o caso da Duquesa de Sussex, podemos dizer: esse tratamento comprova o que muitos de nós já sabemos.

Não importa o quanto você seja bonita, com quem se case, que palácios ocupe, que causas apoie, o quanto seja fiel ou quanto dinheiro acumule: nesta sociedade, o racismo sempre a perseguirá. As ideologias da esquerda ou da direita escondem o racismo e o preconceito contra as mulheres. Um dos exemplos é o fato de o sexo feminino, apesar de inserido no processo produtivo, com idênticas funções e competências iguais às dos homens, usufruir níveis de remuneração mais baixos…

E ainda temos uma ministra, de direita, totalmente pró- mulher e que desconhece os direitos dos homens. Como neonatologista, tenho a declarar que com o advento da ultrassonografia sabemos qual será o sexo do embrião/feto antes do nascer. O sexo não é causa de dúvida. As mães, avós, tias, amigas, já podem comprar com certeza o enxoval dos recém-nascidos, cor de rosa (feminino) ou azul (masculino). Sem enganos. Isto é muito importante na sociedade de consumo. Menos um problema, para todos.

Voltarei oportunamente ao assunto, não exatamente sobre cores de enxovais de bebês.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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