sexta-feira, 26 de maio de 2023

Crônica: “Poeta vendedor de bacia” ... e outros causos

Poeta vendedor de bacia

É já praxe Jair Moraes me acionar pelo zap pra saudável bodejado às quintas-feiras. Dessa vez, contudo, foi enfezado: tava virado numa sabaó ("virado na gota serena, virado no cão, virado num bode, virado numa saraça, virado num tiú, virado num traque -inzamboado"). Por causa de que? De notícia falsa envolvendo um suposto nebuloso passado dele, conforme boato cabuloso que circula a mais de mil no bairro. Com a palavra, o poeta dos cachorros:

- Macho, logo comigo, que "odío" mentira!

- Fake News é coisa de fí duma égua!

- Fico afobado, brabo todo! Vontade de comer areia grossa!

- Mas, qual informação abusenta sobre o amigo papocou?

- Que eu comecei a andar com 18 anos. Pode isso?

- Eita!

- Que eu aprendi a falar com 19 anos. Acredita?

- Eita, eita!

- Pior:que eu decorei o soneto "As Pombas" de Raimundo Correia aos 20 anos...

- Eita, eita, eita, mil vezes eita!

Que de mentiroso há nas assertivas acerca de Jair que correm na Vila, à moda fogo em monturo? "Tudim!" Daí vir o amigo a público botar os pingos nos is:

- De uma vez por todas, eu comecei a andar aos 17 anos e falar, aos 18!

- E As Pombas?

- Hômi, Raimundo Correia é nome de galego!

Identificando o sujeito

De tudo eu já vi no mundo, mas essa!... Numa localidade conhecida por "Caroço de Jerimum", georreferenciar é como denominam o natural exercício obrativo dos bichos intestinais. Por outras, georreferenciar é defecar. A cagada, por sua vez, um georreferenciamento caprichado. Fui procurar o motivo de terminologia tão rebuscada para o solene ato de despejar excremento sentina afora. Descobri, pra felicidade do planeta.

Raimundo de Mazinha, sujeito gabola, que pra tudo tendo uma resposta, tipo metido a intelectual, evacuava solene detrás de casa - entre duas bananeiras, tendo em mão uma revista especializada no processo que define a forma, a dimensão e a localização de um imóvel rural, por intermédio de métodos de levantamento topográfico. Fazia força no "esfinco" e lia artigo em alto e bom tom:

- O georreferenciamento é essencial para a resolução de questões jurídicas e burocráticas que envolvam legislações ou regulamentações, como desmembramento, parcelamento ou remembramento de imóveis rurais.

Nesse exato instante, quando se espremia pra mais desbastar, passa a sogra Rivalda, à busca de madeira pro fogo. Vê a arrumação (havia já uma ruma no local) e grita horrorizada, tapando o nariz:

- Pelamor de Deus, Raimundo! Que é isso?

- Georreferenciamento! Taqui na revista! A padronização é muito importante para eliminar as falhas de levantamentos topográficos antigos...

- Cagando, é?

Criança não se governa

Conversa animada das duas senhoras enquanto chega o Uber, sentadas no batente.

- Pois o Valdenir dessa vez enlocou de vez! Peitica que volta! Causa e efeito puro!

- Também, brincou com coisa séria até dizer chega, se fazendo de doido pra aposentarem ele com 'michurucos' 40 anos de idade. Meninice dele...

- É vero. É que nem diz mãe: 'se fazer de doido endoida'!

Fonte: O POVO, de 6/05/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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