segunda-feira, 22 de maio de 2023

ORTODOXIA E HETERODOXIA

Por Luiz Gonzaga Fonseca Mota (*)

Segundo o “Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa”, ortodoxia significa conformidade absoluta com certos padrões, normas ou dogmas. Por outro lado, o antônimo, heterodoxia, diz respeito ao inconformismo, a não anuência e também a aspectos que não são tradicionais. Existem na vida humana, por exemplo, manifestações, atitudes, diretrizes e políticas caracterizadas por sentimentos ortodoxos ou heterodoxos. Assim, acontece com a religião, a medicina, o amor, as ciências jurídicas, a educação familiar, o comportamento profissional, as ciências econômicas etc. É evidente que cada pessoa deveria, de acordo com a sua consciência, fazer sua opção levando-se em consideração os princípios éticos e morais. Não se pode admitir, de um lado, os donos da verdade e, de outro, as resistências às mudanças quando não são encontrados os caminhos que levem à desejada felicidade. Dessa forma, como disse Francis Bacon: “O homem deve criar as oportunidades e não somente encontrá-las”. Dentro deste quadro de referência, é possível fazer uma análise ressaltando-se os aspectos conjunturais da economia de um país, isto é, as características e estratégias, bem como a interdependência relacionada com a política e o social. Não confundir as intenções retóricas com as mudanças efetivas almejadas pelo povo. Parece claro que os grandes problemas relacionados com o desenvolvimento econômico de um país, além de conotações mais profundas de ordem cultural, estão associados a fatores como desigualdades entre regiões, entre áreas urbanas e rural, bem como distribuição de renda altamente perversa, do ponto de vista pessoal, funcional (renda do capital versus renda de salários) ou setorial (setores de produção versus setores sociais). Esses desequilíbrios distributivos são de natureza estrutural e conjugam-se com os seguintes desafios conjunturais: elevado grau de endividamento, preocupantes níveis de desemprego, elevadas taxas de juros, déficits, dentre outros. A perspectiva de inflação dos países emergentes, para a formação da qual os fatores externos são inegáveis, tem um alto componente psicológico, o qual, certamente, é afetado pela incerteza no futuro. Sem dúvida, o quadro nesses países, não é fácil e seria leviandade exigir soluções rápidas e imediatas, pois além dos objetivos conflitantes, existem variáveis aleatórias. Todavia, vale destacar que é preciso encontrar diretrizes não tradicionais, não se fixando apenas na ortodoxia, visando assim, promover o desenvolvimento num contexto democrático.

(*) Economista. Professor aposentado da UFC. Ex-governador do Ceará.

Fonte: Diário do Nordeste, 28/04/2023. Ideias.

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