Por
José Lima de Carvalho Rocha (*)
Em abril de
2021, publiquei “Prematuridade Médica “pela primeira vez. Espero que nossa
comunidade entenda o risco que corremos, quando a má-formação médica é
estimulada.
Nesta segunda
versão, atualizada, volto ao mesmo tema.
Os cursos de
Medicina no Brasil formam médicos generalistas que devem possuir conhecimento
teórico e prático nas cinco áreas básicas: Pediatria, Ginecologia e
Obstetrícia, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica e Medicina de Família e
Comunidade.
Em grande
emergência na saúde pública, existe a necessidade de médicos, muitos médicos,
que necessitam ser muito bem formados, pois a má-formação profissional em saúde
leva a diagnósticos errados e a tratamentos desastrosos.
O Código de
Ética Médica autoriza que médicos exerçam a profissão com autonomia. A
responsabilidade final é do médico. Diante de várias opiniões divergentes, o
bem formado saberá escolher o correto tratamento. Ao ser graduado, o
profissional tem total autonomia para estabelecer qualquer diagnóstico e
tratamento em todas as especialidades, mesmo que ele ainda não tenha o título
de especialista. Por exemplo, recém-formados podem, legalmente, realizar
neurocirurgia, caso exista hospital que os aceite.
As residências
médicas formam o especialista; no entanto, na residência de Psiquiatria, por
exemplo, médicos não apreenderão nem praticarão conceitos de Pediatria ou de
Cardiologia. Caso não tenham apreendido essas áreas na graduação, não
apreenderão na residência.
Formação cronologicamente antecipada leva, necessariamente, a uma
formação incompleta.
Há 50 anos, o
curso médico é desenvolvido em seis anos, não menos do que seis anos. Nestes 50
anos, a educação médica muito evoluiu. Hoje, os estudantes precisam apreender
maior quantidade de conteúdos, precisam desenvolver novas habilidades e
competências quando comparados a estudantes da década de 1960. Todas as
habilidades e competências do curso médico necessitam de práticas e de tempo
para a sua devida assimilação. Assim, no meio médico, já foi discutida a
necessidade de que o curso tenha a duração mínima de sete ou oito anos; porém,
por vários motivos, não foi possível sua concretização.
Por outro lado,
existem pessoas que defendem que o curso de Medicina seja concluído em menos de
seis anos. Frequentemente, pedem o posicionamento do Poder Judiciário para esse
fim.
A fim de formar
médicos em menor prazo, faz-se necessário retirar conteúdos e práticas. Então,
que área médica deve ser sacrificada? Pediatria? Cirurgia? Clínica? Outra?
Entendo que essa escolha não pertence apenas aos médicos ou aos educadores
médicos. Representantes do nosso povo precisam participar da decisão que
necessita estar fundamentada na qualidade do médico necessário à nossa
sociedade.
Durante as
últimas décadas, estudantes de medicina tentaram, de várias maneiras, antecipar
sua graduação. É um ímpeto estudantil o desejo de, antecipadamente, exercer a
profissão “ser doutor”. Entretanto, compete aos cursos médicos zelar pela
qualidade da formação de seus egressos. Não é possível aceitar que qualquer
estudante venha a se tornar um mau médico. As consequências são terríveis e já
conhecidas por nossa população.
Os cursos
médicos recebem alunos egressos do ensino médio com diferentes condições
acadêmicas. Os professores conhecem essa situação. O curso é desenvolvido
considerando o nível dos ingressantes, pois alguns estudantes apresentam
deficiências e outros não. Existem cursos que recebem quase todos os
alunos com deficiências.
As
consequências que existirão no desenvolvimento da matriz curricular são
inevitáveis, pois, ao final dos seis anos, o curso precisa entregar à sociedade
médicos que exerçam a profissão com grande qualidade, independentemente de como
os alunos chegaram ao curso superior. Cursos que recebem alunos que não tiveram
bom desempenho no ensino médio necessitam ter maior dedicação a seus alunos e,
por parte deles, maior dedicação à aprendizagem.
O esforço
institucional, envolvendo alunos, professores e coordenadores, leva a que, na
Unichristus, nossos alunos consigam obter aprovação, desde 2012, em concursos
antes mesmo de completar os seis anos obrigatórios para a duração do curso. A
aprovação não implica que o aluno já tenha domínio das competências, atitudes e
habilidades necessárias ao exercício ético e técnico da profissão médica.
O Brasil
necessita de excelentes médicos, especialmente para os mais carentes; por essa
razão, precisamos de excelentes cursos médicos. Seguindo todas as leis e
portarias, as instituições de ensino precisam ter liberdade para trabalhar.
Entregaremos, assim, para a sociedade, egressos com as competências
fundamentais nas áreas básicas da saúde, atendendo, dessa maneira, às
principais necessidades dos pacientes.
(*) Reitor da
Unichristus. Membro da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Médicos
Escritores.
Fonte: Publicado na home
page da Unichristus em 5/4/2023 e no jornal O Povo de 6/4/2023. p.16.
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