sábado, 9 de novembro de 2024

A VIDA COM PARKINSON II

Por Lucas Vieira, Rafael Santana, Camila Pontes e Luciana Pimenta, de O Povo (*)

O que está por trás do diagnóstico?

Bruno Sofia relembra que desde que apresentou os primeiros sinais da doença ele passou por situações em que lhe causaram algum constrangimento em relação à sua condição, como na vez em que foi a uma consulta e foi questionado por um médico sobre a possibilidade dele ser usuário de cocaína.

Isso gerou estranhamento ao jovem, que prontamente rebateu a pergunta do médico para saber o motivo da dúvida. Em resposta, o médico disse que a indagação se devia ao fato de ser comum que em alguns pacientes em sua idade tenham alterações na estrutura cerebral após ter feito o uso da droga em excesso.

A resposta do profissional fez com que Bruno ficasse irritado com aquela situação, o fazendo procurar por outro médico para tratar do problema que lhe estava acometendo. Dessa forma, ele começou a sua jornada para descobrir o que lhe afetava.

Sofia fez vários testes e exames para conseguir um resultado com precisão, dentre eles a administração de Levodopa, um medicamento utilizado por pacientes com DP. O remédio tem como finalidade à produção de dopamina, o hormônio extinto do cérebro com a doença.

O diagnóstico da Doença de Parkinson (DP) é eminentemente clínico; ou seja, através da consulta e avaliação neurológica, em que você consegue identificar no exame neurológico a presença de bradicinesia, termo técnico que a gente usa para detectar a lentidão dos movimentos, característico da doença”, esclarece Pedro Braga, médico neurologista e especialista em doença de Parkinson.

Ele, que também é professor universitário de Medicina, afirma que além da presença da bradicinesia, precisa ter mais algum outro achado clínico no exame neurológico, como o tremor e a rigidez, para você ter a primeira etapa do diagnóstico clínico.

A segunda etapa é você pensar em outras doenças que imitem o Parkinson, ou outras doenças neurodegenerativas mais raras, através da consulta, exame neurológico e, algumas vezes, da ressonância”, pontua.

A terceira etapa desse processo se dá através do teste terapêutico, já que, ao iniciar o tratamento mais comumente usado para a doença, que são medicamentos, é aumentada a ação da dopamina no cérebro, abrindo espaço para o paciente observar se há uma melhora clínica com esse medicamento.

Então, não existe, assim, um teste de sangue ou um exame definitivo de ressonância ou de outros exames complementares que digam para você se tem ou não tem a doença de Parkinson. É através da consulta e do exame neurológico que você vai definir esse diagnóstico”, reafirma o médico.

Após concluir todos os exames, Bruno Sofia recebeu a comprovação da DP, o que lhe causou uma onda de negacionismo, como ele próprio definiu. A partir disso, os sintomas foram crescendo com o decorrer do tempo, e Bruno começou a contar com o apoio das pessoas que estavam presentes ao seu redor.

O neurologista Pedro Braga aponta que, diferente do que está presente no imaginário popular, o tremor não é o principal sintoma que leva ao diagnóstico da patologia, mas sim, a lentidão dos movimentos. “A doença é muito heterogênea. Não é aquele perfil que todos pensam ser associado ao tremor. Nem sempre todos que têm esse sintoma são diagnosticados com a Doença de Parkinson. Já à lentidão dos movimentos é obrigatória para diagnosticar a doença”, finaliza.

(*) Jornalistas de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 3/11/2024. Ciência & Saúde. p. 18-19.

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