Por Lucas Vieira, Rafael Santana, Camila Pontes e Luciana Pimenta, de O Povo (*)
O que está por trás do diagnóstico?
Bruno Sofia relembra que desde que
apresentou os primeiros sinais da doença ele passou por situações em que lhe
causaram algum constrangimento em relação à sua condição, como na vez em que
foi a uma consulta e foi questionado por um médico sobre a possibilidade dele
ser usuário de cocaína.
Isso gerou estranhamento ao jovem, que
prontamente rebateu a pergunta do médico para saber o motivo da dúvida. Em
resposta, o médico disse que a indagação se devia ao fato de ser comum que em
alguns pacientes em sua idade tenham alterações na estrutura cerebral após ter
feito o uso da droga em excesso.
A resposta do profissional fez com que
Bruno ficasse irritado com aquela situação, o fazendo procurar por outro médico
para tratar do problema que lhe estava acometendo. Dessa forma, ele começou a
sua jornada para descobrir o que lhe afetava.
Sofia fez vários testes e exames para
conseguir um resultado com precisão, dentre eles a administração de Levodopa,
um medicamento utilizado por pacientes com DP. O remédio tem como finalidade à
produção de dopamina, o hormônio extinto do cérebro com a doença.
“O diagnóstico da Doença de Parkinson (DP) é eminentemente clínico; ou seja, através da consulta e
avaliação neurológica, em que você consegue identificar no exame neurológico a
presença de bradicinesia, termo técnico que a gente usa para detectar a
lentidão dos movimentos, característico da doença”, esclarece Pedro Braga, médico
neurologista e especialista em doença de Parkinson.
Ele, que também é professor universitário
de Medicina, afirma que além da presença da bradicinesia, precisa ter mais
algum outro achado clínico no exame neurológico, como o tremor e a rigidez,
para você ter a primeira etapa do diagnóstico clínico.
“A segunda etapa é você pensar em outras doenças que imitem o
Parkinson, ou outras doenças neurodegenerativas mais raras, através da
consulta, exame neurológico e, algumas vezes, da ressonância”, pontua.
A terceira etapa desse processo se dá
através do teste terapêutico, já que, ao iniciar o tratamento mais comumente
usado para a doença, que são medicamentos, é aumentada a ação da dopamina no
cérebro, abrindo espaço para o paciente observar se há uma melhora clínica com
esse medicamento.
“Então, não existe, assim, um teste de sangue ou um exame
definitivo de ressonância ou de outros exames complementares que digam para
você se tem ou não tem a doença de Parkinson. É através da consulta e do exame
neurológico que você vai definir esse diagnóstico”, reafirma o médico.
Após concluir todos os exames, Bruno Sofia
recebeu a comprovação da DP, o que lhe causou uma onda de negacionismo, como
ele próprio definiu. A partir disso, os sintomas foram crescendo com o decorrer
do tempo, e Bruno começou a contar com o apoio das pessoas que estavam
presentes ao seu redor.
O neurologista Pedro Braga aponta que,
diferente do que está presente no imaginário popular, o tremor não é o
principal sintoma que leva ao diagnóstico da patologia, mas sim, a lentidão dos
movimentos. “A doença é muito heterogênea. Não é aquele perfil que todos
pensam ser associado ao tremor. Nem sempre todos que têm esse sintoma são
diagnosticados com a Doença de Parkinson. Já à lentidão dos movimentos é
obrigatória para diagnosticar a doença”, finaliza.
(*) Jornalistas de O Povo.
Fonte: Publicado In:
O Povo, de 3/11/2024. Ciência & Saúde. p. 18-19.
Nenhum comentário:
Postar um comentário