Por Lucas Vieira, Rafael Santana,
Camila Pontes e Luciana Pimenta, de O Povo (*)
O processo cirúrgico
Em meio a todos esses desafios, Bruno Sofia
tomou a decisão de se submeter a um procedimento cirúrgico. Esse processo se dá
pela implantação de eletrodos na área do cérebro atingida pela doença,
possibilitando a estimulação dessa parte da mente e reduzindo os sintomas da Doença
de Parkinson (DP).
O médico Caio Sander, neurocirurgião
especializado em cirurgia funcional, e que realizou a cirurgia de Bruno Sofia,
relata que antes de saber se o paciente é candidato a cirurgia é preciso uma
série de avaliações, como histórico clínico e psicológico, resposta ao uso da
levodopa, expectativas ao tratamento, além de exames laboratoriais e
cardiológicos para avaliar o risco cirúrgico.
“No dia da cirurgia, implantamos um halo na cabeça do paciente
sob anestesia local e realizamos uma tomografia computadorizada do crânio. Com
o paciente acordado, sob anestesia local, realizamos uma incisão atrás da linha
do cabelo quando possível, fazemos um orifício no crânio de cada lado e uma
ressonância magnética realizado alguns dias antes da cirurgia”, relata.
O cirurgião afirma que após isso, é
implantado alguns eletrodos que estimulam o tecido cerebral para confirmar o
local de implante dos eletrodos. Durante o implante, é realizado estímulos
elétricos no tecido cerebral que provocam a melhora dos sintomas da DP,
confirmando assim a localização dos eletrodos.
“Outro ponto positivo é avaliar as respostas adversas que possam
surgir com a estimulação. Caso surja, modificamos a trajetória do eletrodo,
afastando da estrutura estimulada que provocou o incomodo. Após implantado,
retiramos o halo e o paciente é submetido a anestesia geral para colocação do
neuroestimulador, semelhante a um marcapasso, e conectá-lo aos eletrodos já
implantados”,
descreve.
O neurocirurgião relata também que após a
cirurgia, o paciente fica um dia na UTI e recebe alta hospitalar com 48 horas
em média. Já no pós-operatório, o paciente normalmente apresenta uma leve
melhora do Parkinson pela introdução dos eletrodos. “Em todo procedimento
cirúrgico existem riscos. Os principais são o sangramento, a infecção e o
deslocamento dos eletrodos”, alerta.
A cirurgia é ofertada aos usuários que
possuem planos de saúde com direito ao procedimento. No Ceará, o SUS não conta
com o serviço credenciado para realizar essa cirurgia. Os pacientes são
normalmente inseridos no programa TFD (Tratamento fora do Domicílio), e
realizam essa cirurgia pelo SUS em outros estados.
O médico alerta que os pacientes de DP
devem fazer um acompanhamento com profissionais de áreas diferentes, como o
neurologista para o ajuste periódico das medicações e o fisioterapeuta para
trabalhar a motricidade e marcha. Além disso, é preciso à atuação do
fonoaudiólogo para estimular a fala e a deglutição, e o terapeuta ocupacional
para melhorar a adaptação das atividades do dia a dia.
“Quando os sintomas se tornam refratários ou as medicações
provocam algum distúrbio ao paciente, o que normalmente acontece por volta dos
5 anos de doença, é necessário realizar uma avaliação com um neurocirurgião
especializado em realizar cirurgia de Parkinson”, conclui.
O resultado da cirurgia do jornalista Bruno
Sofia foi bastante positivo, e hoje em dia o jornalista consegue conviver com
as sequelas deixadas pelo problema e fazer algumas tarefas que lhe dão
satisfação.
“Hoje, faço alguns estudos sobre inteligência artificial.
Principalmente porque existem alguns trabalhos nessa área que podem beneficiar
a mim e a outras pessoas. Então, como sempre fui muito curioso, é uma coisa que
eu me dedico bastante”, finaliza ele com entusiasmo.
(*) Jornalistas de O Povo.
Fonte: Publicado In:
O Povo, de 3/11/2024. Ciência & Saúde. p. 18-19.
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