Por Pe. Patriky Samuel Batista (*)
O tempo quaresmal nos oferece uma
oportunidade singular de conversão que tem como pressuposto o amor. Iluminados
pela Palavra de Deus, fortalecidos pelos sacramentos e irmanados na vida
comunitária percorremos um caminho de oração, partilha, intimidade e
solidariedade fraterna. Um verdadeiro retiro espiritual que nos prepara para a
Páscoa do Senhor oferecendo a Ele o melhor de nós: uma vida reconciliada e
pacificada no amor.
Há mais de
cinco décadas, a Campanha da Fraternidade apresenta-se como um modo de viver o
período quaresmal na Igreja no Brasil prestando atenção uns aos outros e nos
comprometendo com a edificação do amor que faz nascer as boas obras da fé. Em
2020, avançamos nesse caminho inspirados pelo tema: "Fraternidade e vida:
dom e compromisso".
A vida é dom de
Deus que devemos cultivar e também um compromisso que devemos assumir. Desde a
concepção e passando por todas as etapas de existência, a vida deve ser
promovida e protegida, buscando sempre o horizonte da eternidade sem tirar os
pés do chão e ofertando coração fraterno ao irmão. E como trilhar esse caminho?
Agindo como bom samaritano. Ele é a grande inspiração e modelo para vivermos a
quaresma deste ano.
Na parábola do
Samaritano, descobrimos que o meu próximo é aquele de quem eu me aproximo para
cuidar, com amor e ternura, independente de quem seja a pessoa e em quais
condições ela se encontra. Reconhecer o próximo é romper com a indiferença. É
ter a capacidade de interromper a própria rotina para se fazer próximo com
atitudes concretas. Amar com gestos, decisões, agilidade, presença e carinho.
Eis o belo
caminho de conversão que temos pela frente: um coração interpelado pela Palavra
que converte e convoca a traduzir em atitudes os bons sentimentos que brotam da
fé, são alimentados pela vida de comunidade e nutridos pelos sacramentos da
Igreja. Com olhos fixos em Jesus, a Campanha da Fraternidade 2020 nos convoca a
romper com toda e qualquer atitude de indiferença, vencendo o pecado pela graça
redentora que nos envia como missionários da vida plena para todos, sobretudo
os mais pobres e excluídos, vítimas de uma sociedade marcada profundamente
pelos traços de Caim.
Olhando ao
nosso redor, percebemos cada vez mais que a vida se encontra ameaçada e um
sinal claro de tal ameaça é o modo de vida da sociedade marcado pela
indiferença.
Uma sociedade
de Caim que traz situações, atitudes e estruturas que se alimentam da
indiferença e nutrem o ódio e a aversão.
Que propaga e
enaltece a cultura do descarte, da morte revelada em ações injustas e
desumanas.
Que a Campanha
da Fraternidade nos ajude a ver com os olhos de Deus a realidade que está ao
nosso lado. Ver direcionando o nosso olhar para aquele a quem chamamos de irmão
e devemos tratá-lo como tal. Que a fé nos ajude a julgar segundo os critérios
da compaixão e da justiça condicionados pelo amor a fim de que sejamos
promotores de uma nova sociedade na qual a globalização da ternura e do cuidado
sejam reais e que comece em nós, em nossos corações convertidos, as mudanças
que esperamos no mundo.
Que Santa Dulce
dos Pobres interceda a Deus por nós a fim de que vivamos a fé cristã com o
compromisso de ver, compadecer e cuidar, pois, a fraternidade é
samaritana!
(*) Secretário Executivo
para Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Fonte: O Povo, 27 de fevereiro de
2020. Opinião. p.17.
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