Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Para a
perplexidade de muitos observadores, Putin tornou-se um historiador amador e
começou a inventar notícias sobre o passado da Rússia, fundando-se em que
russos e ucranianos são pertencentes à mesma “Nação Eslava”, ignorando que os conflitos
entre os dois grupos são tão irreconciliáveis quanto as rixas familiares.
Os presságios são
especialmente ruins quando um dos “irmãos” acredita ser seu direito natural
estar no comando de toda a família e o outro não aceita. Ocorre que poucos conflitos
são tão profundos e irreconciliáveis quanto as rixas familiares.
As tensões entre a
Rússia e a Ucrânia são agravadas por uma disputa sobre heranças. Senão vejamos.
As tradicionais
batalhas russas — seja contra os poloneses no século XVII, os suecos no 18, os
franceses no 19 ou os alemães no 20 — seguem idêntico padrão. Putin parece
estar explorando essa tradição, invocando, segundo imagina, intrigas do
Ocidente ou da passada Guerra Fria. A reunificação da nação eslava, trazendo
Bielorrússia e Ucrânia de volta à proteção da Grande Rússia seria o sonho
imaginado pelo atual autocrata e seu desejo histórico, como ex-membro que é da
(KGB) (o serviço secreto da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
– URSS).
Na verdade, os
líderes da Rússia nunca aceitaram a ideia da Ucrânia como nação independente.
Após o colapso da União Soviética, eles culpam o Ocidente, que teria rompido os
laços familiares russo-ucranianos. A Rússia acusou os poloneses de serem
seduzidos, primeiro pelo Vaticano em relação à igreja Ortodoxa. Hoje a Polônia
é predominantemente percebida na Rússia como apenas mais um país estrangeiro
desde que foi convertida ao catolicismo.
No entanto, tal
como aconteceu com a Polônia no século XIX, a animosidade ciumenta que muitos
russos experimentam hoje em relação a seus “irmãos” desleais em Kiev é
psicossocial. Não se pode esquecer de que a vida é possuidora de recursos
ilimitados para ensinar suas lições até mesmo para os alunos mais teimosos,
contudo as famílias às vezes se separam e nada mais sangrento que as brigas
intrafamiliares.
Infelizmente, esta
análise será de pouco conforto para aqueles que hoje têm de arcar com o custo
de uma obstinação arcaica.
Os russos veem os
ucranianos como irmãos, apesar do sangue derramado e do contágio com um mundo
informatizado e com ogivas nucleares.
Tenho quase
certeza de que a maioria dos russos e seus líderes acabarão aprendendo a
aceitar a independência da Ucrânia e passarão a viver no presente.
O mundo mudou e a
China está aí – de olho!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário