quarta-feira, 2 de março de 2022

FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO

Por Pe. Manfredo Oliveira (*)

A Campanha da Fraternidade, na Igreja católica, é preparação para a celebração da Páscoa de Jesus e significa passar de um mundo não fraterno, marcado pelo pecado, nas expressões de injustiças, omissões e opressões, para um mundo de irmãos e irmãs. O convite que nos é feito, em 2022, é para refletirmos sobre a educação a partir da convicção de que ela é uma dimensão indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno.

Trata-se de uma interpelação a uma mudança de mentalidade que nos faça capazes de buscar um caminho que promova o desenvolvimento pessoal, a formação para a vida fraterna.

A educação é um serviço indispensável à vida, que nos ajuda a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade, pois o ser humano somente conquista o seu ser através de relações dialógicas e cooperativas com os outros e outras, reconhecendo todo ser humano como portador de igual dignidade.

A educação, hoje, tem que enfrentar um desafio fundamental: o impacto das novas tecnologias de comunicação. A palavra se transforma em imagem e possibilita a transmissão de efeitos não verbais cultivando emoções e sentimentos e apresentando valores para orientar a vida das pessoas. Como situar-se diante da multidão dos dados transmitidos, como não ser levado passivamente pelo que aparece?

O papa Francisco (Laudato Si, 215) afirma que a educação só é eficaz tendo como objetivo difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza. Isso delineia um horizonte para as tarefas educativas próprias a nosso mundo, o que P. Freire exprimiu dizendo: "Não há prática educativa também sem um sonho. Por isso, é um pecado horrível a morte do sonho e da utopia hoje".

Na ótica da concepção de ser humano hoje preponderante, que entende o ser humano exclusivamente como indivíduo fechado em si mesmo, impulsionado por apetites, cobiças e ambições que buscam a satisfação de seus interesses próprios, a educação é subjugada ao mercado e, com isso, limitada a um processo de ajustamento dos indivíduos às suas exigências.

A consequência é clara: ela se transforma num processo de treinamento e de adestramento, convertida à simples instrução, que tem como finalidade básica a produção de indivíduos eficientes para a competição no mercado.

Contudo, a educação não é necessariamente isso. Pelo contrário, ela pode transformar-se num instrumento primordial e potente de tomada de consciência e habilitação para uma análise crítica dos elementos negadores da dignidade humana e ponto de partida para a descoberta do verdadeiro sentido da vida humana e seus potenciais emancipatórios, gerando assim pessoas abertas às grandes questões que dizem respeito a toda a sociedade, capazes de romper com os laços de submissão e de dependência de situações de opressão e de construir participativamente mundos alternativos.

Isso implica que ela ponha como seu princípio o respeito ao valor singular da pessoa humana e ao valor próprio da natureza, o que exige a cooperação e a superação das iniquidades. 

(*) Padre e doutor em Teologia. Professor de Filosofia aposentado da UFC.

Fonte: O Povo, de 27/02/2022. Opinião. p.18.

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