Por Pe. Manfredo Oliveira (*)
A Campanha
da Fraternidade, na Igreja católica, é preparação para a celebração da
Páscoa de Jesus e significa passar de um mundo não fraterno, marcado pelo
pecado, nas expressões de injustiças, omissões e opressões, para um mundo de
irmãos e irmãs. O convite que nos é feito, em 2022, é para refletirmos sobre
a educação a partir da convicção de que ela é uma dimensão
indispensável para a construção de um mundo mais justo e fraterno.
Trata-se de uma
interpelação a uma mudança de mentalidade que nos faça capazes de
buscar um caminho que promova o desenvolvimento pessoal, a formação para a vida
fraterna.
A educação é um
serviço indispensável à vida, que nos ajuda a crescer na vivência do amor, do
cuidado e da fraternidade, pois o ser humano somente conquista o seu
ser através de relações dialógicas e cooperativas com os outros e outras,
reconhecendo todo ser humano como portador de igual dignidade.
A educação,
hoje, tem que enfrentar um desafio fundamental: o impacto das novas
tecnologias de comunicação. A palavra se transforma em imagem e
possibilita a transmissão de efeitos não verbais cultivando emoções e
sentimentos e apresentando valores para orientar a vida das pessoas. Como
situar-se diante da multidão dos dados transmitidos, como não ser levado
passivamente pelo que aparece?
O papa
Francisco (Laudato Si, 215) afirma que a educação só é eficaz tendo como
objetivo difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e
à relação com a natureza. Isso delineia um horizonte para as tarefas educativas
próprias a nosso mundo, o que P. Freire exprimiu dizendo: "Não há
prática educativa também sem um sonho. Por isso, é um pecado horrível a morte
do sonho e da utopia hoje".
Na ótica da
concepção de ser humano hoje preponderante, que entende o ser humano
exclusivamente como indivíduo fechado em si mesmo, impulsionado por
apetites, cobiças e ambições que buscam a satisfação de seus
interesses próprios, a educação é subjugada ao mercado e, com isso, limitada a
um processo de ajustamento dos indivíduos às suas exigências.
A consequência
é clara: ela se transforma num processo de treinamento e de adestramento,
convertida à simples instrução, que tem como finalidade básica a produção de
indivíduos eficientes para a competição no mercado.
Contudo, a
educação não é necessariamente isso. Pelo contrário, ela pode transformar-se
num instrumento primordial e potente de tomada de consciência e
habilitação para uma análise crítica dos elementos negadores da dignidade humana
e ponto de partida para a descoberta do verdadeiro sentido da vida humana e
seus potenciais emancipatórios, gerando assim pessoas abertas às grandes
questões que dizem respeito a toda a sociedade, capazes de romper com
os laços de submissão e de dependência de situações de opressão e de
construir participativamente mundos alternativos.
Isso implica
que ela ponha como seu princípio o respeito ao valor singular da pessoa humana
e ao valor próprio da natureza, o que exige a cooperação e a superação das
iniquidades.
(*) Padre e doutor em Teologia. Professor de Filosofia aposentado
da UFC.
Fonte: O Povo, de 27/02/2022. Opinião. p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário