quarta-feira, 9 de março de 2022

NO REINO DA TOLERÂNCIA III

Por Vladimir Spinelli Chagas (*)

Em fevereiro de 2020, inaugurei minhas colaborações mensais hipotetizando um Reino da Tolerância, "um lugar em que eu possa concordar ou discordar de alguém, criticando um fato, sem que importe antes quem é o personagem".

Em abril, com a discussão polarizada entre Economia e Saúde, e em maio entre isolamento ou distanciamento social, por conta da Covid-19, voltei a clamar por deixarmos as discussões estéreis e nos debruçarmos sobre o real inimigo.

Em fevereiro de 2021, reconheci que não tínhamos avançado no respeito ao outro, continuando em um embate sem fim, "sempre buscando desconstruir o pensamento alheio em tudo aquilo que não se coadune com o nosso próprio pensar."

Olhando para trás, vejo que são tênues as mudanças no comportamento binário que assumimos, de forma absolutamente ilógica. Afinal, quando se trata de comportamento humano, não há que se falar em padrão binário. "Meus 'heróis' podem cometer erros e os meus 'bandidos', acertos."

Recuei até de comentários nas redes sociais sobre a intolerância, passando a destacar o reconhecimento a instituições e pessoas. Hoje volto a enfrentar o tema com a ideia de que, se mais meia dúzia de pessoas refletir e reavaliar suas ações, terá valido a pena.

Não se trata de ensinar a viver. Seria petulância minha. O que sugiro é uma outra leitura do mundo, de convivência pacífica e respeitadora, discutindo os problemas em busca de soluções, e não de culpados.

O Brasil atravessa momento delicado. Temos os três poderes da República em constantes atritos. Um Executivo em que, muitas vezes as falas são mal ditas ou mal entendidas. Um Legislativo que há muito empobreceu em termos de compromissos com sua nobre função. Um Judiciário a exercer poderes que não lhe são afetos em nossa Carta Magna. Todos pretensamente defendendo a Democracia.

E nós, cidadãos, eleitores, culpados e vítimas, em vez de cobrar pelos erros, em parte temos preferido defender "nosso lado", como se estivéssemos em um Fla x Flu. "Tolerância, mesmo que utópica, continua sendo uma ideia que defendo com veemência. E uma reflexão que proponho mais uma vez." E uma vez mais.

(*) Professor da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do CRA-CE.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/2/21. Opinião, p.20.

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