Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O
Capitólio é o local de reunião do Congresso estadunidense e sua invasão por
vândalos continua nas manchetes internacionais. Advirto, tal episódio nada tem
a ver com as obsoletas ideologias da direita ou da esquerda. O buraco é
quilômetros mais embaixo e não serve como modelo para o Brasil.
Pondero
que a situação criada pela saída de Donald Trump e a invasão do Congresso
norte-americano não é motivo para tanto estardalhaço nem prognósticos sombrios
– para nós brasileiros. Devemos em primeiro lugar analisar o psicossocial do
país, do povo como Nação e esquecermos o nosso individual. É bom lembrar que o
verbete psicossocial significa atividade e estudo relacionados com os aspectos
psicológicos, em conjunto com os aspectos sociais da nação, considerados
distintos dos aspectos políticos (condução e administração da coisa pública),
dos aspectos econômicos (aumento e distribuição da riqueza nacional) e dos
aspectos militares (salvaguarda dos interesses, da riqueza e dos valores
culturais da nação).
O
verbete, em suma, envolve simultaneamente apenas aspectos psíquicos e sociais.
Mas, o que tem a invasão do Capitólio a ver com a Medicina?
Vamos entrar no assunto com
calma e sem uma possível distorção profissional pois sou um simples esculápio
de província. No final do século XIX e início do século XX, o fisiologista
russo Ivan Pavlov (1849-1936), ao estudar a fisiologia do sistema
gastrointestinal, fez uma das grandes descobertas científicas da História: o
Reflexo Condicionado. Foi uma das primeiras abordagens realmente objetivas e
científicas ao estudo da aprendizagem, principalmente porque forneceu um modelo
que pode ser verificado e explorado de inúmeras maneiras, usando a metodologia
da fisiologia.
Pavlov
inaugurava, assim, a psicologia científica, acoplando-a à neurofisiologia. Por
seus trabalhos, recebeu o prêmio Nobel concedido na área de Medicina e
Fisiologia em 1904. A experiência clássica de Pavlov é aquela do cão, a
campainha, a salivação e a visão de um pedaço de carne. Sempre que apresentamos
um pedaço de carne a um cão, a visão da carne e sua olfação provocam salivação
no animal. Se tocarmos uma campainha, qual o efeito sobre o animal? Uma reação
de orientação. Ele simplesmente vira a cabeça para ver de onde vem aquele
estímulo sonoro. Se tocarmos a campainha e em seguida mostrarmos a carne,
dando-a ao cão, e fizermos isso repetidamente, após certo número de vezes o
simples tocar da campainha provoca salivação no animal, preparando o seu
aparelho digestivo para receber a carne. A campainha torna-se um sinal da
carne que virá depois. Todo o organismo do animal reage como se a carne já estivesse
presente, com salivação, secreção digestiva, motricidade digestiva, etc. Um
estímulo que nada tem a ver com a alimentação, meramente sonoro, passa a ser
capaz de provocar modificações digestivas. Conferir detalhes no site: https://cerebromente.org.br/n09/mente/pavlov.htm.
Se
até as pessoas são múltiplas, não adianta estereotipar, ou seja, repetir
grosseiramente o que outros países fazem. Por isso não gosto quando alguém me
põe um letreiro (República de Banana), quanto mais em se tratando de uma Nação.
Ou será que estamos aceitando que nós brasileiros fomos condicionados como os
cães de Pavlov ou que permanecemos neste século XXI com um complexo de
vira-latas?
Essa
expressão do dramaturgo e escritor brasileiro Nélson Rodrigues originalmente se
referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção
Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do
Mundo em pleno Maracanã.
Somos
sim o país do futebol, mas jamais uma república bananeira ou um Estado xerox.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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