Por Carlos Viana
(*)
Tinha
por volta de 10 anos de idade quando soube que algumas pessoas não tinham o que
comer. Estava no Centro de Fortaleza com minha mãe, quando
encontramos uma mulher pedindo dinheiro para comprar comida para seus filhos.
Essa
cena voltou à minha cabeça quando li o "2º Inquérito Nacional sobre
Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no
Brasil, relatório produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar e Nutricional, mostrando que, em um ano, o número de
pessoas sem ter o que comer no Brasil saltou de 19 para 33 milhões.
A
pesquisa também mostra que 58.7% dos brasileiros convivem com algum tipo de insegurança
alimentar. Esses números não eram registrados no Brasil desde o início da
década de 1990. Com isso, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde tinha
saído em 2014.
Os
dados sobre o aumento da fome no Brasil foram divulgados poucos dias após
levantamento do portal Uol mostrando que o atual governo praticamente zerou o
orçamento do principal programa de aquisição de alimentos da agricultura
familiar, o "Alimenta Brasil".
Em
2012, o programa teve orçamento de R$ 586 milhões, caindo para
r$ 58.9 milhões em 2021 e para R$ 89 mil até maio deste ano.
O
descaso do governo Bolsonaro com os mais pobres é notório. Em
2020, quando teve início a pandemia do covid-19, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, queria dar um auxílio de apenas R$ 200, divididos em três parcelas. O
Congresso aumentou o valor para R$ 500 e, para não ficar por baixo, Bolsonaro
colocou mais R$ 100 na conta.
O Auxílio
Emergencial teve um papel importante para aliviar o sofrimento dos
brasileiros mas, com seu fim, a situação voltou a se agravar, ainda de forma
mais acentuada, o que é comprovado não só pelos dados do relatório, mas também
ao encontrarmos no dia a dia uma quantidade cada vez maior de pessoas pedindo
ajuda.
Dizendo-se
temente a Deus, Bolsonaro angariou o apoio de vários evangélicos. No entanto,
tanto o presidente quanto seus eleitores cristãos parecem não
conhecer a Bíblia que tanto afirmam defender.
Em
Mateus 14:13-21, Jesus, o verdadeiro Messias, alimenta cinco mil
pessoas com cinco pães e dois peixes. Bolsonaro, ao contrário, multiplica o
número dos famintos no Brasil.
(*) Jornalista. Repórter do Núcleo de Opinião do jornal O
POVO.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/6/22. Opinião, p.16.
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