quinta-feira, 23 de junho de 2022

O AUMENTO DA FOME NO BRASIL

Por Carlos Viana (*)

Tinha por volta de 10 anos de idade quando soube que algumas pessoas não tinham o que comer. Estava no Centro de Fortaleza com minha mãe, quando encontramos uma mulher pedindo dinheiro para comprar comida para seus filhos.

Essa cena voltou à minha cabeça quando li o "2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da covid-19 no Brasil, relatório produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, mostrando que, em um ano, o número de pessoas sem ter o que comer no Brasil saltou de 19 para 33 milhões.

A pesquisa também mostra que 58.7% dos brasileiros convivem com algum tipo de insegurança alimentar. Esses números não eram registrados no Brasil desde o início da década de 1990. Com isso, o Brasil voltou ao Mapa da Fome da ONU, de onde tinha saído em 2014.

Os dados sobre o aumento da fome no Brasil foram divulgados poucos dias após levantamento do portal Uol mostrando que o atual governo praticamente zerou o orçamento do principal programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar, o "Alimenta Brasil".

Em 2012, o programa teve orçamento de R$ 586 milhões, caindo para r$ 58.9 milhões em 2021 e para R$ 89 mil até maio deste ano.

O descaso do governo Bolsonaro com os mais pobres é notório. Em 2020, quando teve início a pandemia do covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, queria dar um auxílio de apenas R$ 200, divididos em três parcelas. O Congresso aumentou o valor para R$ 500 e, para não ficar por baixo, Bolsonaro colocou mais R$ 100 na conta.

Auxílio Emergencial teve um papel importante para aliviar o sofrimento dos brasileiros mas, com seu fim, a situação voltou a se agravar, ainda de forma mais acentuada, o que é comprovado não só pelos dados do relatório, mas também ao encontrarmos no dia a dia uma quantidade cada vez maior de pessoas pedindo ajuda.

Dizendo-se temente a Deus, Bolsonaro angariou o apoio de vários evangélicos. No entanto, tanto o presidente quanto seus eleitores cristãos parecem não conhecer a Bíblia que tanto afirmam defender.

Em Mateus 14:13-21, Jesus, o verdadeiro Messias, alimenta cinco mil pessoas com cinco pães e dois peixes. Bolsonaro, ao contrário, multiplica o número dos famintos no Brasil. 

(*) Jornalista. Repórter do Núcleo de Opinião do jornal O POVO.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/6/22. Opinião, p.16.

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