Por Pe.
Reginaldo
Manzotti (*)
É com grande alegria que, neste mês, festejamos Nossa Senhora do
Carmo, Mãe do Santo Escapulário. "Carmo" vem do Monte
Carmelo e é citada com muita clareza no Antigo Testamento, quando o profeta
Elias subiu esse Monte e lá rezou e suplicou pela chuva, para cessar a grande
cega que os assolava. Na sétima vez que o servo foi ao topo, avistou uma pequena
nuvem no horizonte, e mandou dizer ao Rei Acab que atrelasse os
cavalos no carro e descesse para que a chuva não o detivesse (cf. 1Rs
18,41-46).
Lá começa a espiritualidade, uma nuvenzinha do tamanho de
uma mão humana que para muitos não significaria nada, mas para Elias que tinha
fé, era Deus agindo. Muito cedo na patrística, os santos padres viram naquela
cena a Virgem Maria. Para o povo de Israel, naquela ocasião veio a chuva depois
de uma grande cega e, sobre Maria, a pequena nuvenzinha de Deus também
ocasionou a maior de todas as chuvas, água viva trazida por Jesus Cristo,
o Bendito fruto do Seu ventre.
Depois o Monte Carmelo foi meio esquecido, apesar de ser sempre
um lugar de visitação, de recolhimento, de contemplação e o lugar do grande
profeta Elias. Até que no século XII, tempo das Cruzadas na Idade Média,
chegou ao Monte um grupo de eremitas, que lá se dedicaram à oração no
recolhimento, num estilo de vida humilde e simples. Eles construíram uma
pequena capela em homenagem à Nossa Senhora já no primeiro século.
Devido à perseguição aos cristãos na Terra Santa, e para
fugir dos muçulmanos, o grupo de eremitas que vivia no Monte Carmelo foi
obrigado a buscar refúgio na Europa. Ao chegarem na Inglaterra, encontraram
Simão Stock, que também era eremita e se juntou a eles.
Outras dificuldades e perseguições externas e internas vieram.
Simão Stock suplicou à Virgem Maria um sinal de proteção contra os
inimigos da fé. Eis que, no momento de prece, ele teve uma visão de Nossa
Senhora, que lhe deu um escapulário como promessa e sinal de proteção
para todos aqueles que o usassem: "Ela lhe disse: 'Recebe, filho amado,
este escapulário de tua Ordem, como sinal distintivo e a marca do privilégio
que eu obtive para ti e para os filhos do Carmelo. Quem morrer revestido com
ele será preservado do fogo eterno. Ele é sinal de salvação, defesa nos
perigos, aliança de paz e de uma proteção sempiterna!'".
A partir dali a Ordem dos Carmelitas, que corria o risco de
se extinguir, se fortaleceu e se propagou pelo mundo inteiro. Muitos
importantes santos tiveram a espiritualidade carmelita, entre eles: Santa
Teresa d'Ávila, Santa Teresa de Lisieux, Santa Teresa Benedita da Cruz e São
João da Cruz.
O santo escapulário é um sinal, a nuvenzinha para quem tem fé. É
um pedaço do manto de Maria. Um sinal da mãe. Quantas crianças têm seu
cheirinho, um paninho para dormir que, todos sabemos pela psicologia
atual, é um porto seguro dos pequenos. É o cheiro da mãe, do berço,
do aconchego, da confiança. Eu gosto de pensar que Nossa Senhora do Carmo nos
deu seu cheirinho pelo santo escapulário, para que todos nós, quando nos
sentirmos amedrontados e ameaçados, nos apeguemos a esse sinal pedindo:
"Socorra-me Mãe. Sede-me propicia Mãe". Me diga qual mãe não atende a
um filho? Qual mãe não o socorre? Imagine Nossa Senhora.
Gosto de pensar assim, mas sei das implicações do uso do
escapulário. Qualquer que seja a forma ou material, deve ter de um lado a
imagem de Nossa Senhora do Carmo e do outro o Sagrado Coração de Jesus,
para nos colocar no mistério de Nossa Senhora em Jesus Cristo. Exatamente para
mostrar essa devoção a Cristo, por Maria.
O Escapulário é um sacramental, vem da palavra escapula, que
também se refere para ser usado no pescoço. Nos lembra que é uma
proteção, mas também um avental. É revestir-se para servir. São duas dimensões
de uma mesma realidade: de um lado a Mãe que protege e, do outro, lembra sempre
o eco daquilo que Nossa Senhora disse nas Bodas de Caná: "Fazei o que ele
vos disser" (Jo 2,5).
Então, usemos esse avental para servir a Deus, a Igreja e
aos mais pobres. Para fazer como fez Maria: em tudo a vontade do Senhor.
(*) Fundador e presidente da
Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de
Guadalupe, em Curitiba (PR).
Fonte: O Povo, de 16/07/2022. Opinião. p.16.
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