Por Vladimir Spinelli Chagas (*)
Há
anos passei a contribuir mais diretamente para a manutenção de alguns gatos, no
caso os que "moram" no Parque Adahil Barreto, por incentivo de
pessoas ligadas à proteção de felinos em situação de abandono. E os temos
tantos espalhados por toda a cidade.
Em
visita ao Parque Adahil, vi que o número de gatos continua grande, tanto no
equipamento como em suas cercanias. Soube que as doações de ração se
reduziram significativamente a partir do início da pandemia, gerando
inquietação para os cuidadores e sofrimento para os animais.
Também
em outros espaços, como na Uece, há uma tendência de pessoas abandonarem
seus animais, mais das vezes os envelhecidos, com doenças ou filhotes
"não planejados", por não se sentirem em condições de os manter ou
por arrependimento da adoção ou compra.
Já
em um shopping center parei em uma loja de produtos veterinários, por
curiosidade do meu neto, para ver alguns cachorros e gatos. Todos bem
cuidados, brincantes ou dormindo. Percebi, então, que não são gatos ou
cachorros, mas pets.
Aqueles
ali expostos o estão não para serem cuidados por aquela casa comercial, mas
para a venda. E quantas crianças e adultos naquele momento brincavam com
esses pets pelos vidros que os separavam, sendo acolhidos em inocente
alegria.
Não
há interesse em julgar essas pessoas ou lojas, pois sei que há toda uma cultura
ainda vigente de que os animais servem aos propósitos dos homens, nem sempre
com contrapartida adequada, exceções de praxe, e que também são
"produto" vendável, pois há oferta e procura.
O
que me leva a essas reflexões é pensar que nós que raciocinamos e temos
o livre arbítrio, mesmo que nem sempre pareça livre, deixamos passar
oportunidades de olhar com mais zelo e ternura, não apenas para os pets, mas
para os animais dos quais cuidamos ou aqueles carentes desses cuidados.
E
o poder público tem obrigação de zelar por esses seres com real atenção, não
apenas com programas ou ações isoladas, mas concretizando projetos de
proteção permanente aos animais em situação de abandono, com alimentação
condigna, atenção de saúde e ambientes seguros e confortáveis.
(*) Professor
da Uece, membro da Academia Cearense de Administração (Acad) e conselheiro do
CRA-CE.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 18/07/22. Opinião, p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário