segunda-feira, 8 de agosto de 2022

CÂNCER DO COLO - Por que ainda mata tanto?

Por Camila Marques (*)

Pasme você, mas o câncer de colo uterino é o quarto lugar entre as causas de morte por câncer em pessoas com útero no Brasil. O famoso "exame de prevenção" não é justamente para isso, para evitar o surgimento dessa doença? Como pode tanta gente morrer por uma causa tão evitável?

São quase 17 mil novos casos em apenas um ano no nosso país. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), morre uma mulher a cada 60 minutos vítima dessa enfermidade.

O câncer do colo do útero é uma doença silenciosa, de desenvolvimento lento, e é causado, em quase 100% dos casos, por um vírus que é transmitido através de contatos sexuais: o HPV (Papilomavírus Humano). A literatura aponta que mais da metade da população tem ou terá a presença de algum tipo de HPV. Mas, ter HPV não é sinônimo de estar doente nem de, algum dia, manifestar a consequência mais grave dessa infecção que é o câncer de colo uterino. Porém, a presença desse vírus no organismo significa um fator de risco importante.

Dentro desse grave cenário, precisamos falar sobre duas armas no combate a essa doença. A primeira delas é o exame preventivo (Papanicolau), que deve ser realizado por todas as pessoas com colo do útero, entre 25 a 64 anos, que já tiveram atividade sexual - incluindo homens trans e pessoas não binárias. O exame é rápido, simples e indolor, devendo ser feito anualmente. O intuito é detectar alterações precursoras do câncer do colo uterino e evitar que evoluam para um câncer. As lesões precursoras são geralmente assintomáticas - o que aumenta a importância desse exame.

A segunda arma que dispomos é a vacina contra os principais tipos de HPV, que deve ser dada, nos postos de saúde, para crianças e adolescentes. Adultos também se beneficiam enormemente e podem procurar a vacina na rede privada.

Essa dura batalha precisa de um freio urgente. Chega desse pensamento inocente, porém irresponsável, de que fazer exame significa "procurar doença". Nesse caso específico, postergar esse cuidado básico pode fazer a diferença entre vencer a guerra ou ser mais uma vítima, mais um número a somar nessa conta que não fecha. 

(*) Médica. Ginecologista e obstetra.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 25/07/2022. Opinião. p.20.

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