Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
* O termo Utopia foi criado pelo inglês Thomas More para intitular
um romance filosófico em 1516.
*A matéria pode ser encontrada em três diferentes estados em nosso
planeta: líquida, sólida e gasosa. Fora da Terra existe um quarto estado,
conhecido como plasma, abundante em lugares como o Sol e as estrelas.
*Gasosos são os corpos que possuem características de gás (estado físico
qualificado por apresentar expansão espontânea e ocupar, assim, todo o espaço
do lugar em que se encontra).
A
Utopia de um sonhador moderno precisa necessariamente ser diferenciada em um
aspecto fundamental. As utopias anteriores eram sonhadas por sociedades
estáticas, quando nem a informática era imaginada. Havia um equilíbrio entre
felicidade conquistada pela imaginação humana e a felicidade natural. Se
houvesse desvios, invocavam-se as divindades para os controlar.
As
Utopias criadas, declamadas em versos ou textos, reverenciavam os frutos da
terra e a atmosfera de virtude e felicidade a ser seguida pelas gerações
futuras. Eram virtuosas, felizes e inteiramente semelhantes, até que os
“deuses” cansados dessa estática social resolveram catalogá-las segundo os três
estados da matéria existente no planeta Terra: sólidas, líquidas e gasosas.
A
tal utopia líquida, que dizem ser a que vivemos agora, embora possa parecer
estática, é predominantemente dinâmica, porquanto sendo liquida, assume a
morfologia do recipiente que lhe empresta a forma. Nessa forma destacam-se:
tradições, costumes, veículos, casas, cidades, meios de produção e somente
posso terminar com um grande etecetera.
Hoje,
na polarização em que vive o Brasil, passa-se de uma solidez social crônica
para uma fluidez total. É complicado. Imaginem para tempos gasosos, pois somos
todos partes da mesma Gaia (MÃE -TERRA); Gases expandem-se, têm características
amorfas, tendo penetrado no nosso passado, avistados no presente e caminhando
para o futuro que acontecerá.
Rememoro
que a definição do estado de uma utopia em um dos três estados físicos dos
corpos em que quase todas as matérias podem ser classificadas não permite que
criemos devaneios utópicos, como desejam as tais de ideologias, que não passam
de sistemas de conceitos impossíveis de serem concretizadas, pois não
consideram a individualidade de cada ser humano que funciona como óbice
irremovível à liquefação de uma utopia. No líquido já é impossível
predizer qual futuro acontecerá, imaginem num mundo que passou para o estado
gasoso.
O
mundo onde vivemos está em mutação constante e a presente polarização
desmensurada traz à nossa população um aumento de ansiedade, sejam as utopias
sólidas, líquidas ou gasosas.
Os
polarizadores esquecem-se de que a insegurança é a gênese/útero/parto das
ansiedades que, de tão frequentes, tornaram-se no quadro patológico que é a
principal pandemia do aqui e agora.
As
principais e últimas notícias do Brasil e do Mundo são uma pletora de
informações sobre política, economia, esportes, cultura, tecnologia, estilo de
vida e muito mais, tornando as utopias cada vez mais líquidas, enquanto algumas
tendem ao estado gasoso. Já são elas virtuais, ignorando o que é suscetível de
se realizar, em potencial ou como possibilidade viável.
O
estado de um corpo é determinado de acordo com sua capacidade de resistir a
forças que possam mudar sua forma e volume. Um sólido tem forma e volume
praticamente inalteráveis, já os gases, não. Portanto, imaginar utopias
com base em ideologias diversas é uma forma de despautério ideológico para não
dizer em corriqueiro português: — grande besteirol.
BESTEIROL
é um gênero de humor definido por seu conteúdo absurdo, escrachado, crítico,
usado para criticar situações cotidianas ou a sociedade. Mas a utopia está na
gênese de um dos maiores fenômenos recentes do consumo: os notebooks, sem falar
nos Iphones e outros tantos, para terminar também no clássico Etecetera. A
única coisa que sei ou arriscaria dizer: “Teremos seres humanos geneticamente
modificados e corrigiremos os erros da natureza. Será um futuro muito
diferente. E não existem futuros previsíveis. Somente um deles irá acontecer.
A
ansiedade humana continua enquanto vivo permanecemos, e ela será eterna
enquanto vivo formos. Como psicoterapeuta concluo que a nossa Era da
Ansiedade não aconteceu por acaso. O acaso inexiste. Nada de novo abaixo do Sol
ou acima desta estrela de pequena grandeza ocorre por acaso e muito menos como
novidade no Universo, nem as tais das utopias.
Em
vez de trazer o Eldorado comunista para a América Latina, desencadeou-se um
populismo anárquico. Concluo parafraseando o mestre Freud: “Oitenta e sete anos
de vida e meus profetas ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade”
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
Nenhum comentário:
Postar um comentário