Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Em 1989 a Opas
lançou a ideia de um encontro em Quito para debater a situação da pesquisa
sobre Saúde Mental nas Américas, convidou três
pesquisadores por país e priorizou os eixos da Epidemiologia e da relação com o
Trabalho. O debate histórico, teórico, metodológico, técnico de investigação e
de interpretação era crucial para romper os limites de uma Epidemiologia
retardatária, derivada e maltratada, e construir uma Epidemiologia Social
Crítica que incluísse o contexto socioeconômico-ambiental e pudesse
incorporar a subjetividade. Mas, o maior impacto dos debates ocorridos foi
sobre a interrelação Saúde Mental e Trabalho, que atravessa a vida inteira, em
todas as suas dimensões.
Na infância e
adolescência estamos expostos indiretamente ao trabalho dos pais e às condições
de consumo que aquele trabalho gera. Na condição de adulto enfrentamos diretamente o mundo do trabalho, no duelo entre a
objetividade das condições e do processo de trabalho e as expectativas de
segurança, consumo, satisfação e prestígio. Na velhice, colhemos os frutos
retardatários das vitórias e fracassos destas lutas.
O diagnóstico,
naquele tempo, ainda não muito diferente, era de pouco volume de pesquisa,
pouca articulação entre pesquisadores e baixa concordância
conceitual/instrumental, além do isolamento entre os pesquisadores e os movimentos críticos dos trabalhadores
em metamorfose permanente, derivada das ações do capital em busca de
mundialização, tercialização, terceirização, desregulamentação, tecnologização,
deslegitimização sindical e concentração exponencial da riqueza.
Iniciou-se a
criação de grupos de pesquisa nas universidades, de rede comunicativa entre os grupos, como é o caso da latino-americana Red de
Investigadores sobre Factores Psicosociales en el Trabajo, da qual a Uece faz
parte, por meio do Grupo de Pesquisa Vida e Trabalho-GPVT, e de encontros
por meio de eventos, como os Congressos das Américas sobre Fatores
Psicossociais, Saúde Mental e Stress no Trabalho, que a Uece sediará a 5ª
edição em outubro de 2023.
A situação
brasileira hoje é dramática: a desregulamentação do trabalho agudizou-se no
último quinquênio e a pandemia de Covid19 transformou o agudo em crise,
desnudando a relevância do sofrer mental das pessoas num mundo em convulsão de
valores e esperanças.
(*) Professor titular de Saúde Pública e
ex-Reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 17/11/2022. Opinião. p.17.
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