Por Pedro Jorge Ramos Vianna (*)
A ciência
econômica desde o seu nascedouro se utiliza de diversos instrumentos,
tirados da física, da matemática (em seus diversos ramos), da estatística, da
econometria, da geometria, da geografia e muitos outros, para suas análises e
previsões.
Os modelos
matemáticos, por exemplo, para explicar o comportamento dos sistemas
econômicos, começaram a aparecer já no início do século XIX. Mas foi já quase
no fim daquele século que apareceu o primeiro modelo matemático para analisar o
"equilíbrio do sistema econômico". De fato, em 1874, a publicação do
livro "Elementos de Economia Política Pura", de Marie-Ésprit Leon
Walras, iniciou na ciência econômica o uso de modelos de equilíbrio geral.
O
uso da matemática para explicar fenômenos econômicos tem sido
a tônica dos "cientistas econômicos" modernos. Alguns caem no exagero
de pensar que a matemática explica tudo. Esquecem que esta ciência é, apenas,
um instrumento de análise.
Não
existe modelo econômico-matemático que em seu bojo não contenha hipóteses sobre
o comportamento não só dos agentes, como do próprio sistema
econômico como um todo. Tais hipóteses nem sempre refletem a realidade a ser
analisada. E é aí que o "modelo" peca.
Por
outro lado, existe na ciência econômica um pressuposto básico: a ideia de que o
ente econômico é racional, enquanto agente. O que nem sempre se
verifica.
Também
existe, nos modelos matemáticos aplicados à economia, o pressuposto do "ceteris
paribus" , o que é uma tremenda condicionante.
Sobre
este tema um artigo do economista Alexandre S. Cialdini publicado
no O POVO de 11/08/2022, traz uma interessante discussão sobre a ciência
econômica atual: o ente econômico age de maneira comportamental ou ele sempre
procura o "experimento"?
Acredito
que não há resposta única para tal dilema. E é interessante notar
que atualmente os modelos econômicos mais sofisticados são aqueles voltados
para o comportamento dos investidores.
Justamente
aqueles entes econômicos que, hoje, mais afetam o comportamento de qualquer sistema econômico.
Como predizer-lhes o comportamento se eles acordam sem saber o que fazer
naquele dia?
Mas,
há de se ter conhecimento, como o fez o Dr. Cialdini, que existem economistas
que não se deixam enveredar pelo "matematicismo" enganoso,
haja vista que aqueles que o utilizam o fazem para mostrar
"conhecimento", não para mostrar o que realmente interessa: para onde
e para quem o sistema econômico se desenvolve.
Aqui
vale a pena parafrasear o Prof. Nicholas Georgescu-Rogen, um dos luminares da
ciência econômica: "Quem se diz economista matemático é o acadêmico que
não sabe economia para ser economista e não sabe matemática para ser
matemático."
(*) Economista e professor titular
aposentado da UFC
Fonte:
O Povo,
de 20/9/22. Opinião. p.20.
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