Por Célia Perdigão (*)
Sempre relacionamos muros protegendo nossos lares. Agora numa
escala gigantesca. Ávila, na Espanha, e outras cidades medievais europeias
seriam as mesmas sem suas muralhas protetoras e cheias de plasticidade?
Certamente, não. E por que a alusão? Explicamos. Numa escala menor, o Náutico
volta à cena. Livre de uma investida esmagadora, com enormes edifícios em seu
terreno, o alvo se volta para os muros. Proposta: alugar outro trecho,
demoli-lo e montar uma loja com feição de shopping center.
Temos assistido a reformas/destruições em muros de edificações
relevantes sob pretextos questionáveis. Citemos a Escola Jesus Maria José,
cujos muros foram deteriorados. Ou o Colégio Doroteias, que trocou o seu
original por um modernoso. Ambos tombados. Já o Colégio Imaculada preserva
fachada e muros desde sempre. O mesmo se dá na Casa de Câmara e Cadeia de Icó,
cujos muros contam sua história desde antes da proteção legal. Os tombamentos
auxiliam na preservação de nossa identidade. Mas por vezes, órgãos de proteção
não impedem atitudes destrutivas, quando capturados pelo poder econômico.
Infringindo sua essência, não têm sensibilidade nas análises, determinando
poligonais incompletas - contornos de proteção. O Náutico aí se encaixa.
Imagine o Imaculada sem muro ou abrigando uma cantina? Ou a Câmara
de Icó com uma farmácia no muro? Será o futuro do clube. Equívoco técnico com
os muros fora da área protegida. Como assim? Eles contornam grande parte do
clube e portam seu emblema. Concedem privacidade e compõem o mirante da praia
na área das piscinas. Que aberração um muro virar uma vitrine de shopping!
Outro símbolo se vai.
O clube passa por dificuldades gerenciais e de conservação. Medidas
descaracterizadoras não o trarão ao patamar merecido. O BNB e o Ideal são
referenciais de gestão. Esperamos que o órgão local de preservação retifique o
tombamento, incluindo os muros e leve o fato a sério. Afinal, muros, muretas,
muralhas, presente.
(*) Arquiteta. Especialista em história e conservação de monumentos
antigos na França.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/23. Opinião, p.18.
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