terça-feira, 2 de janeiro de 2024

OTIMISMO REALISTA: a trajetória de 2023 e as perspectivas de 2024

Por Alexandre Sobreira Cialdini (*)

O elevado nível de incerteza no início de 2023, considerando: as estruturas políticas, o cenário geopolítico internacional e o cenário interno turbulento, geraram expectativas negativas de uma parte dos economistas e das instituições financeiras nacionais e internacionais com as previsões para o Brasil em 2023. O Fundo Monetário Internacional (FMI), inclusive, previa um crescimento da economia brasileira de apenas 0,8%. As mesmas instituições, também não garantiam credibilidade na queda da inflação e na elevação do emprego formal. Para complementar os números do pessimismo do início do ano, a inflação esperada rondava a casa de 6%, em média, o câmbio, próximo a 150%, e o déficit na Lei Orçamentária Anual, previsto para 2023 era de 2,2% do PIB. Registre-se, ainda, o crescimento exorbitante de 1000% dos benefícios fiscais concedidos entre 2021 e 2022, representaram 4,7% do PIB, em 2022, ou seja, mais de 4 vezes o gasto do Bolsa Família.

A Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) lançou na segunda-feira (18/12) o relatório Economic Survey Brazil 2023. (https://encurtador.com.br/diG59). O documento destaca perspectivas positivas para a economia brasileira nos próximos anos e enfatiza a importância da recente aprovação da Reforma Tributária, a implementação do novo marco fiscal, o processo de desinflação e o Plano de Transformação Ecológica, como fatores-chave para assegurar um crescimento econômico robusto e sustentável para o Brasil.

O Crescimento de 2023, que contrariou as expectativas iniciais, foi puxado pelo crescimento do governo e consumo das famílias. O crescimento do governo se deu a partir da recuperação de políticas públicas importantes, tais como: ampliação do bolsa família; Minha Casa, Minha Vida; Mais Médicos; Política de Aquisição de Alimentos; Farmácia Popular; Reajuste de Bolsas do CNPq e Capes (os valores das bolsas pagas por ambos não são atualizados desde 2013) etc., ou seja: a economia gerou queda na taxa de desemprego em 2023, de 8,4%, para 7,9%, e melhoria em 2,3% na produtividade do trabalho, em contrapartida a expectativa é que se tenha um déficit primária de R$ 177,4 bilhões.

Para 2024 não há atalhos, no sentido de garantir a robustez e sustentabilidade, é preciso melhorar a produtividade dos setores público e privado, principalmente do empreendedor. Segundo Rafael La Porta e Andrei Shleifer, autores de um dos trabalhos mais consistentes sobre a informalidade e desenvolvimento, o nível de escolaridade do empreendedor é um determinante fundamental do grau de informalidade da economia. De modo geral, os empreendedores informais não têm escolaridade suficiente para se beneficiarem do acesso à economia formal e, a elevada informalidade implica em uma menor capacidade de arrecadação e, por conseguinte, de oferta de bens públicos.

Uma maior informalidade permite que firmas menos produtivas (informais) concorram com firmas mais produtivas (formais), o que pode gerar uma má alocação de recursos e perda de produtividade e trabalhadores informais estão sujeitos a maior volatilidade de renda, aumentando a chance de ingresso na pobreza episódica. Essas razões, entre outras, sugerem que informalidade pode causar pobreza, por isso teremos o desafio de combinar políticas sociais com equilíbrio fiscal, para implantar um processo de spending review (Revisão Periódica de Gastos) no Brasil, instrumento de governança fiscal amplamente adotado pelos países membros da (OCDE).

(*) Mestre em Economia e doutor em Administração Pública e Secretário de Finanças e Planejamento do Eusébio-Ceará.

Fonte: O Povo, de 28/12/23. Opinião. p.23.

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