Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Padre Osvaldo foi um dos maiores intelectuais de Sobral. Ao
elogiar um texto sem saber a autoria, perguntou ao educador Carlos Dias quem o
compôs. E quando soube que era um empresário o autor da orelha de seu livro
"Ele", o reverendo afirmou: "Esse rapaz deve perder muito tempo
com as coisas empresariais."
Passados 12 anos, ainda não sei se recebi um elogio ou uma crítica.
Se vivo fosse, ao ler o recém-lançado livro "Conversa de Livraria",
de Paulo Elpídio de Menezes Neto, talvez o clérigo lamentasse a "perda de
tempo" do escritor em seu eficaz reitorado na UFC.
Nossos melhores encontros são com pessoas, pets ou livros amados.
Ao conhecer "Conversa de Livraria", segui uma lição de meu pai, Ari
de Sá Cavalcante. Quando eu dele recebia um livro e indagava onde estava um
assunto, a resposta era: "Consulte o índice." Assim encontrei
Cervantes, Dom Quixote e Sancho Pança sob Paulo Elpídio. Lá seus
leitores obtiveram notáveis aulas do grande amigo de meu saudoso cunhado
Tarquínio Prisco, ambos sempre professores.
Como esperado, o autor percorre a obra em grande estilo e nos
relata, entre outras preciosidades, que "todo mundo tem uma determinada
imagem do Quixote, embora seja o personagem desconhecido pela maioria".
Aponta também que "o Quixote foi tomado como uma metáfora das
características negativas do povo espanhol [...] a transformação da soberba
militar nas aventuras de um fantoche ridículo" e cita as influências de Platão,
Horácio e Aristóteles. Por fim, descreve o fim: "Dom Quixote, enfermo,
começa a recuperar a razão e renega suas fantasias. Por afastar-se do sonho e
aproximar-se da razão, Dom Quixote começa a morrer."
Em seu memorável discurso de posse na Academia Brasileira de
Letras, Roberto Campos enaltecia a quem substituía e lamentava: "Que
pena, não ter tido um 'papo cabeça' com Dias Gomes. Que pena, meu Deus..."
Da mesma forma, a UFC deve estar a dizer: "Que pena, não ter tido um 'papo
cabeça' com Tarquínio, seu pai, Prisco Bezerra; minha irmã, Hilda; Paulo
Elpídio, Zuleide Menezes e seu pai, Martins Filho; todos a dialogar sobre
'Conversa de Livraria'. Que pena, meu Deus..."
(*) Reitor do FB UNI e
Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/01/24. Opinião, p.18.
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