Antero Coelho Neto (*)
Por diversas vezes, em livros, artigos neste Jornal,
palestras, conferências, no nosso programa de rádio etc., tenho destacado o
valor da Memória (Registro dos acontecimentos ocorridos) dos países, cidades,
Instituições e das próprias pessoas.
No Momento em que nosso país passa por uma crise muito
grande na sua política, com corrupção de muitos e do próprio governo, com 32
partidos e já se falando em outros mais, sem nenhum plano para o país, com uma
violência conhecida em poucos países, sem saúde e sem educação necessárias e
suficientes, fica ainda mais difícil falar em comemorar nossos momentos vividos
e guardar-los com alegria e saudade.
E também destacamos sempre que, uma das maiores razões para
que isto ocorra, é que não guardamos o que passou, os momentos em que, algumas
vezes, fomos felizes. Costumo dizer que: “aquilo que não escrevemos sobre eles,
não fotografamos, não pintamos e não gravamos nos nossos diários e
computadores, não existiu. Existe apenas no momento em que ocorreu”. Isto é de
suma importância para a nossa Memória histórica.
E ai está um fator que muitos estudiosos brasileiros têm
destacado e criticado. Nós não damos valor a nossa Memória. Muitos momentos de
satisfação e felicidade passaram e foram esquecidos por nós. Não sabemos até
mesmo a Memória de nossa família. Muitas vezes, em meus cursos e palestras,
tenho perguntado aos presentes, principalmente idosos, os nomes e fatos dos ante-passados
e eles apenas ficam rindo encabulados, pois não sabem quem foram. E aí destaco
que, tenho ouvido de outros estudiosos no assunto, e aprendido nos países
desenvolvidos em que vivi ou visitei, da América do Norte, Europa e Ásia, como
isto não ocorre.
Mudei minha vida em 1963, quando estava em Boston, no
Massassuchets General Hospital e, num momento de descanso, juntamente com
vários médicos americanos, alguns começaram a me perguntar sobre o Brasil,
minha cidade, fatos ocorridos no passado e sobre a minha família, descendência
e como as mudanças políticas tinham atuado na minha estória pessoal. E ficaram
surpresos quando eu não sabia, nem o nome de meus bisavôs maternos. Foi uma
tristeza, mas um grande momento para mim, pois passei a valorizar a minha
Memória. Até aquele momento valorizava a Medicina, a que estava aprendendo e
desenvolvendo. Lembro também que, quando visitava a casa de amigos e
professores americanos, em quase todas, na sala principal, lá estava a árvore
genealógica da família. Eles valorizam suas origens, por mais humildes que
tenham sido.
Mudei e passei a anotar todos os momentos, principalmente
os importantes de minha vida. Atualmente, já no 4º livro, espero ainda ter
muitos outros para gravar. Em especial, aqueles que me dão satisfação de viver
e felicidade, dimensões fundamentais da vida.
Os Momentos viajados, todos gravados em computador, estão
quase completando dois milhões de quilômetros. Muitos deles têm sido descritos,
em artigos meus, neste Jornal.
Assim, convido vocês a guardarem e comemorarem os anos
vividos. E eu, ao atingir os 2 milhões de quilômetros viajados, chamarei os
amigos, jovens e idosos, para uma grande Festa de Comemoração.
E lembrem também das nossas Memórias Cognitivas e outras
(Associativa, Dedutiva, Interpretativa, etc.) guardadas em nosso cérebro e que
poderemos perdê-las se tivermos a Doença de Alzheimer ou outras Demências. E
isto está se tornando cada vez mais frequente e, algumas vezes grave, quando
atingimos maiores sobrevidas.
Pensem no assunto.
(*) Médico, professor
e ex-presidente da Academia Cearense de Medicina.
Publicado In: O Povo, 30/10/2013.
p.6.
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