Por Ricardo
Alcântara (*)
Diante
da imagem de gente chorando abraçada a bandeiras vermelhas ao ver os condenados
do mensalão embarcando para o cumprimento de suas penas me dei conta uma vez
mais de que somos capazes de acreditar no que melhor nos convém.
A
parte surreal é que o comboio não levava às celas apenas gente que pegou em
armas pela emancipação proletária. Também foram às grades banqueiros que com eles
colaboraram com indispensáveis artifícios para o êxito de suas aventuras.
Foi
burlesco ver lágrimas gouches derramadas por um affair que
botou em cana também paxás da mora. Os artífices da Segunda Internacional
jamais imaginaram que seus últimos heróis seriam pranteados na companhia de
banqueiros.
Aquelas
meninas de calcanhares sujos que frequentam os barzinhos do Benfica acreditam
que o Zé Dirceu é a reencarnação do Chapeuzinho Vermelho enquanto Civitas pagam
Mainardis para dizer o contrário: trata-se do Lobo Mau. Nada disso.
Zé
Dirceu é Zé Dirceu: a mais perfeita tradução da sua geração. Se alguém pensa
que a nação deve algo ao PT, deve igualmente pensar que deve muito àquele
operador político frio e competente forjado no movimento estudantil dos anos
60.
Do
relógio chamado PT, José Dirceu foi sempre o pino oculto da engrenagem onde,
acima, brilhava os ponteiros de Lula. Por isso mesmo, a relação entre eles
sempre foi de uma afinação arduamente sustentada: dela dependia simplesmente
tudo.
O
partido de massa conseguiu preservar o pescoço do seu líder, mas o articulador
que deu coesão à sua estrutura não resistiu: vai cumprir pena por um crime,
tendo cometido outro e sem que se tenha provado contra ele nenhum dos dois! Foi
assim.
Ao
vê-lo, braço erguido e punho cerrado, dizendo-se um “preso político” em vã
tentativa de controlar os fatos, e vendo que por ele ainda há quem chore
abraçado à bandeira, constato: o julgamento do Supremo acabou, mas o da
História não.
Crime,
houve: menor do que o denunciado por Roberto Jéferson e maior do que o admitido
pelos advogados petistas. Crime, por sinal, rotineiro no cotidiano de Brasília:
desconheço grupo político neste país que não o tenha cometido também.
Por
ele pagaram até agora apenas os que se investiram do papel de vestais: o PT
construiu reputação na classe média urbana denunciando o baixo padrão ético dos
partidos conservadores. Uma vez no poder, as concessões cobraram um alto preço.
É assim que se faz
Dizem
que papel aguenta tudo. O Twitter também: no dia em que se comemorava
(comemorava mesmo?) a Proclamação da República, a presidente Dilma declarou em seu Twitter que seu
papel é “prevenir e combater a corrupção”.
A
presidente não explicou como tem feito isto, mas eu digo: criando 40 ministérios
e entregando uma penca deles ao PMDB do José Sarney, Renan Calheiros e Romero
Jucá e os outros praquela turminha bem acolá. Facinho, não?
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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