Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
John Keats (1795 – 1821) 26 anos,
famoso poeta londrino obtivera o certificado de médico, mas logo desistiu para
praticar apenas a poesia. Em Ode on a Grecian Urn (“... num túmulo Grego”)
asseverou (declarou): “A beleza é a verdade /A verdade a beleza /... isto é
tudo que você precisa saber”. Antônio Vieira, de Lisboa (1608 – 1697), em Sermão
da Conceição Imaculada, I citou o “Eclesiastes” ao afirmar: Nihil sub sole
novum = “Nada de novo sob o sol”. Hoje o latim seria outro: Omnia nova sub sole
= “tudo novo...” Pois!. Nossa vida vem sendo tecnologicamente esticada além dos
atuais, 75 anos em média, e sonham (ou acreditam) alguns futurólogos (entre
eles Ray Kurzweil) ser possível vivermos para sempre a partir de 2029. Para
tanto, novíssimos procedimento deverão estar maduros no final de 2020. Seria
mesmo “um sonho louco este nosso mundo“, como observou o poeta Mario Quintana?
Atualmente tal pretensa longevidade já vem se beneficiando de novos
medicamentos, e de possível substituição de quase todos os nossos órgãos. À
medida que conhecermos melhor os princípios operacionais do corpo e do cérebro
humanos, brevemente poderão ser criados sistemas superiores mais eficazes e
duráveis, infensos às doenças e à velhice. No início de 2030 (de hoje a 17
anos!) poderíamos funcionar apenas com o esqueleto, a pele, órgãos sexuais e
sensoriais, boca, com o esôfago superior, e cérebro. Já seríamos parte
protoplasma e parte transistor, a que aludiu Alvin Toffler em Future Shock (Bantam
Books New York, 1971), máquinas humanóides, fusão do homem e do objeto
cientifico: seriamos “cyborgs”. Êpa! Ficção cientifica de novo? Os indivíduos,
pois, superaram a etapa das cópias carbonadas de si mesmos, os clones. Um certo
yanque, Yogi Berra, jogador de beisebol, notabilizado também por suas tiradas,
ou rasgos mentais inteligentes, afirmou “O futuro não é mais aquele” (ain’t
what it used to be: “não é o que costumava ser”). Realmente, neste sentido o
nosso brilhante Mino especulou: “Não entendo como no passado o futuro era tão
imprevisível, e agora no presente é tão ultrapassado”. Para ampla compreensão
deste tema seria útil reler (ou ler) meu artigo 2045, neste jornal, em
27/3/2013. É chegado o transhumanismo: tal é um movimento internacional para transformar
a condição humana, aumentando sua capacidade física, intelectual, psicológica,
e sua longevidade. Como verbo foi usado por Dante significando “sair da
condição e da percepção humanas”. Transhumanizar-se. O conceito foi encampado
pela pesquisadora americana em Plymouth (Inglaterra) Natasha Vita – More (vida
mais!), nascida (1950) Nancie Clark. Em 1983 ela desenvolveu o protótipo “Primo
Posthuman” misto de nanotecnologia biotécnica, inteligência artificial,
neurociência, regado a drogas avançadas. Todos estes tentos seriam êxitos
humanos, derradeiros capítulos de obra máxima do Criador, ao fazer o homem à
sua semelhança. A esta inveja dos atributos divinos, os gregos denominavam
Hubris. Esperamos que esta busca científica da superhumanidade, nesse “admirável
mundo novo” não revele a Nemesis, ou o castigo divino por esta humana
presunção.
(*) Médico e secretário geral
da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 6/11/2013.
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