Um médico da Santa Casa de Misericórdia de
Fortaleza era detentor de uma péssima letra, dificilmente legível, a despeito
de ser do tempo em que as aulas de caligrafia eram obrigatórias na escola
primária.
Um dia, ele foi procurado por uma
enfermeira, portando uma receita sua, a ser decifrada por ele.
Ele examina a receita, fazendo ares de quem
não conseguia ler o que estava ali escrito. Em dúvida, indaga à enfermeira:
– De quem é essa receita, moça?
– É sua, doutor!
– Eu sei que é minha. Está assinada e carimbada
por mim – retruca o médico. Eu quero que me diga para quem foi essa prescrição.
– É da minha vizinha! Os balconistas das
farmácias, onde ela tentou comprar esses remédios, não conseguiram ler a
receita do senhor.
Ao que o médico tenta novamente ler o que
escrevera, e falhando em seu intento, assim justificou:
– Ah! Está explicado. Essa receita já tem mais
de duas semanas, minha filha.
– E como assim, doutor?
– Minha jovem, quando eu acabo de escrever,
Deus e eu sabemos o que está escrito. Depois de três dias, aí só Deus sabe.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames-CE e da ABRAMES
* Publicado In:
SOBRAMES – CEARÁ. Letras que curam. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2013.
328p. p.224.
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