sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Causos Militares em Brasil Anedótico I



ORGULHO DE GENERAL
Taunay - "Reminiscências", vol. I, pág. 150
Após as campanhas de 1868, quando supunha ir travar a batalha definitiva com as forças de Solano Lopez, viu o duque de Caxias que este, mudando de tática, se embrenhava nas cordilheiras, fugindo diante das tropas brasileiras a fim de iniciar o regime das guerrilhas.
- Não posso tomar o papel de capitão do mato, a correr atrás de fujões! - declarou Caxias.
E, pedindo uma licença, embarcou para o Rio.
OPÇÃO
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 109.
Era nos últimos dias de outubro de 1889. Chegado do sul, Deodoro era insistentemente procurado pelos camaradas para que se decidisse a chefiar o movimento republicano, quando, uma tarde, presentes os coronéis Andrade Vasconcelos e Melo Rêgo, o major Solou e outros, alguém aludiu à sua situação.
- Sou monarquista, - declarou o general, - mas...
E em tom firme:
- Se me convencer de que a Monarquia é incompatível com os interesses da Pátria, optarei pela Pátria!
O COMPROMISSO
Tobias Monteiro - "Pesquisas e depoimentos", pág. 207.
Três ou quatro dias antes de 15 de novembro, Benjamim Constant mostrou-se apreensivo com a situação de Floriano Peixoto. E confessou os seus receios a Deodoro.
- Não se aflija com isso, - aconselhou o general.
E contou, a propósito, que, tempos antes, Floriano, em conversa com ele, lhe dissera, pegando-lhe com dois dedos nos botões da farda:
- "Seu" Manuel, a Monarquia é inimiga disto!
E adiantara, logo:
- Se for para derrubá-la, estarei pronto.
O DESTINO DO IMPERADOR
Ernesto Sena - "Deodoro", pág. 42.
Em uma das reuniões preparatórias do movimento republicano, a 6 de novembro, em casa de Benjamim Constant, assentavam-se planos quando Benjamim, de repente, indagou:
- E que faremos do "nosso Imperador"?
Um silêncio profundo foi a resposta. A figura bondosa e justa do monarca infundia respeito a todos aqueles conspiradores, impedindo uma resolução. Quebrou, porém, esse silêncio, o tenente Manuel Inácio.
- Exila-se! - disse.
- E se resistir?
- Fuzila-se! - declarou o tenente.
Todos se levantaram, numa reprovação,
- Oh! fez Benjamim, refletindo a repugnância de todos. - O senhor é sanguinário!
E entre a aprovação geral:
- Ao contrário, devemos cercá-lo de todas as garantias e considerações, porque é um nosso patrício, e muito digno!
LIÇÃO DE HEROÍSMO
Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 240
Preso na noite de 15 para 16 de novembro, foi o visconde de Ouro-Preto conduzido ao quartel do 1° Regimento, onde, fatigado, adormeceu. Alta noite, entra no compartimento um oficial, o tenente Mena Barreto, que lhe grita:
- Acorde, e prepare-se, que mais tarde tem de ser fuzilado.
Ouro-Preto pôs-se de pé.
- Só se acorda um homem para fuzilar, - retorquiu: - mas não para o avisar de que vai ser fuzilado.
E acentuou:
- O senhor verá que, para saber morrer, não é preciso vestir farda!
O CLARIM
Afrânio Peixoto - Conferência ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a 2 de julho de 1923
Reunidas em Pirajá, as tropas brasileiras desenvolviam daí, em 1822, o cerco do general Madeira, encurralado na Baía com o restante das forças portuguesas. A 8 de dezembro Madeira lança um contingente de 2.000 homens contra a ala direita dos sitiantes, levando-os de roldão. Chegam reforços de parte a parte, e os lusitanos vão triunfar, quando o coronel brasileiro Barros Falcão prevendo a derrota e querendo salvar o resto dos seus homens, ordena ao clarim Luiz Lopes, português de nascimento, mas que abraçara, aí, a causa da independência:
- Toca "retirar!"
O soldado leva o clarim à boca e o toque que se ouve é:
- "Avançar, cavalaria!"
E logo outro:
- "Degolar!"
Apavorados com o que ouviam, os portugueses, quase vitoriosos, recuam, os brasileiros ganham ânimo e avançam de novo.
Estava ganha a batalha.
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927)

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