Por João César de Melo
Já
que, enfim, Lula está sendo enquadrado pela justiça, creio ser pertinente
fazermos um breve resumo do seu primeiro mandato, no qual foi iniciada a
degradação política e institucional que enoja a sociedade brasileira.
O ano começou com o comparecimento de Antônio
Palocci à CPI dos Bingos. Foi acompanhado de José Sarney e de Renan Calheiros,
que lhe prestaram apoio moral. Na mesma seção, outro ex-assessor de Palocci
afirmou que a campanha de Lula à presidência recebeu US$ 3 milhões de Cuba. A
acusação repercutiu na mídia por apenas um dia, antes de desaparecer do
noticiário.
Dois meses depois, o caseiro de uma mansão em
Brasília, utilizada para reuniões políticas e orgias com prostitutas de luxo,
declarou em entrevista ao Estadão que Antônio Palocci era um dos
frequentadores. Outra testemunha confirmava a acusação. Nas reuniões, eram
discutidos os termos dos esquemas de favorecimento entre governo e empresas.
Todas as despesas eram pagas em dinheiro vivo, levado em malas.
Lula, bem ao seu estilo, saiu em defesa de
Palocci. Desqualificou o caseiro.
Antônio Palocci reagiu mandando a Caixa
Econômica vasculhar a vida bancária do rapaz. Os R$ 25 mil descobertos em sua
conta foram plantados na mídia como sendo pagamento do PSDB pelo serviço de uma
falsa acusação. Não era. O dinheiro fora depositado pelo pai do caseiro,
referente a um acordo de reconhecimento de paternidade.
Palocci foi substituído no Ministério da
Fazenda por Guido Mantega, até então presidente do BNDES.
Em setembro, dois filiados do PT foram detidos
num hotel em São Paulo com nada menos do que R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo
que, segundo eles, seria utilizado para comprar um falso dossiê sobre José
Serra.
Enquanto Lula, diante dos holofotes, repudiava
a ação de seus companheiros, seu governo tratava de abafar o caso para que o
episódio não respingasse na campanha eleitoral em curso.
Sua campanha à reeleição foi baseada na
estratégia de fazer falsas e sistemáticas afirmações sobre o adversário para
obrigá-lo a perder mais tempo desmentindo-as do que falando de seus projetos.
Alckmin teve que repetir mil vezes que não privatizaria a Petrobrás. Lula foi
reeleito.
A fantástica versão da realidade social e
econômica martelada cotidianamente na cabeça dos brasileiros escondia números
em nada elogiáveis. Desemprego em 8,4%. Crescimento econômico abaixo da média
mundial e quase a metade da média dos países do chamado BRICs. Os índices de
saneamento básico, de educação, de saúde e de segurança pública continuavam tão
vergonhosos quanto antes da chegada de Lula ao poder.
Em apenas um mandato, Lula concentrou a
produção econômica nas mãos do estado como nenhum outro governo havia feito
após o regime militar. A participação do governo no setor petroquímico passou
de 46% para 63%; nas termelétricas, pulou de 11% para 44%; na distribuição de
combustíveis, foi de 24% para 32%. A indústria como um todo perdeu 10% para o
agronegócio.
A política intervencionista do governo Lula
não se dava apenas através de regulações e do aparelhamento das estatais. Por
meio do BNDES, o governo passou de 24 participações em empresas privadas em
2002 para 37 em 2006.
Os altos preços das commodities
engordaram o caixa da União na mesma proporção em que o governo injetava
dinheiro nas maiores empresas do país, nos sindicatos, nos movimentos sociais,
na imprensa chapa-branca e na classe artística. O pouco que sobrava era
dividido entre programas sociais e projetos de infraestrutura.
A “redução da pobreza” festejada pelo governo
se deu por causa da mudança dos critérios de avaliação, que fez com que milhões
de pessoas fossem alçadas, do dia para a noite, da classe baixa para a classe
média. Engodo. Não houve nem uma coisa nem outra. Não havia toda a pobreza
anunciada e os miseráveis que existiam não se tornaram outra coisa.
Na época, o IBGE divulgou uma pesquisa que
indicava que apenas 4% da população se encontrava na extrema pobreza quando
Lula chegou ao poder. Ou seja: Lula não herdou um país assolado pela miséria. A
título de comparação, o Haiti contava com 19% de miseráveis, a Etiópia com 38%
e a Índia com 49%.
Sim, 4% da população representava, naqueles
anos, quase 4 milhões de pessoas. É muita gente. Porém, essas pessoas
continuavam miseráveis ao final do primeiro mandato de Lula. Nada mudou. O sertão
nordestino continuava do jeito que sempre foi.
Lula foi reeleito dizendo que ele havia mudado
o Brasil, quando na verdade a maior parte da população continuava vivendo em
bairros insalubres e sendo assistida por péssimos serviços públicos. A única
diferença era que, como “nunca antes na história desse país”, milhões de
pessoas pobres puderam comprar televisores modernos para ver novela e futebol.
O Instituto Data Favela publicou, em 2014, uma
pesquisa que registra que para 96% dos moradores das favelas brasileiras, NÃO
foi o governo o responsável por sua melhoria de vida. 40% creditavam a Deus,
42% a si mesmos e 14% a ajuda da família.
A “inclusão social” que também era comemorada
por Lula foi uma bem-sucedida estratégia para desviar o foco sobre a péssima
qualidade do ensino público. Em vez de melhorar o ensino básico para que os
estudantes mais pobres tivessem mais condições de competir por vagas nas
universidades públicas, Lula preferiu criar programas de cotas. Comprovando o
caráter discriminatório do socialismo, estudantes mais capacitados perderam
vagas para estudantes menos capacitados em função da tonalidade da pele. Lula
reinstitucionalizou o racismo no Brasil.
Completando a política da “inclusão social” do
PT, foram promovidos inúmeros concursos, contribuindo para o inchaço das contas
públicas e jogando no lixo todo o esforço do governo anterior em equilibrar as
contas da União.
Por fim, o objetivo de Lula de se diferenciar
de seu antecessor não foi totalmente atingido. Lula gastou em propaganda o mesmo
que FHC. Média de R$ 1 bilhão por ano.
Bibliografia recomendada:
Aldo Musacchio e Sergio Lazzarini, Reinventando
o capitalismo de estado.
Marco Antônio Villa, Década perdida.
Paulo Rabello de Castro, O mito do governo
grátis.
Renato Meirelles e Celso Athayde, Um país
chamado favela.
Diogo Mainardi, A tapas e pontapés.
Diogo Mainardi, Lula é minha anta,
Lucia Hippolito, Por dentro do governo lula.
Rodrigo Constantino, Estrela cadente.
Reinaldo Azevedo, O país dos petralhas (I
e II).
Bruno Garschagem, Pare de acreditar no governo
Nota do Blog: Optamos por postar
por ano o artigo integral publicado por Rodolfo Constantino no Instituto
Liberal.
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