Por jornalista Tarcísio Matos,
de O Povo
Tudo certo, nada
confirmado!
Decisão do campeonato da liga esportiva
regional. Pra variar, as equipes do Burrinha Sporting e do Muricizal Clube de
novo em campo. Como sói ocorrer há 10 anos, a mesmíssima parelha em disputa.
Jogo no campo do Burrinha, com a vibrante torcida local a empurrar sua onzena.
Dia especial, prenúncio de coisa
complicada. Partida marcada pra começar meio dia em ponto. Domingo de sol dos
mais arrombativos da história do lugarejo – 46 graus à sombra, estando o
sujeito no ar condicionado no volume 16 e o ventilador ligado no 1. O açude
mais perto, a duas léguas. Bodega pruma garapa? Nem pensar! Pote com água ou
cacimbão? Negatofe! Mangueira, cajueiro, um pezinho de sabiá ao perto...
fresque não!
E se a partida não começasse
naquele exato instante, a mão de faca jurada pela torcida organizada ia comer
de esmola. Juiz inicia a peleja. Cinco minutos de pelada e o atleta de melhor
disposição física (Larry Boca de Surrão, centreraufe do Burrinha) exibe meio
palmo de língua. Contei nove elementos estatelados no chão, contorcendo-se de
dor de veado, entre a gente nativa e o povo do Muricizal.
Eis que a voz gasguita de sempre
irrompe do olho da carnaubeira gigante ali perto, anunciando em tom assaz
ameaçador:
- Parada técna, seu juiz! Parada
técna!
Árbitro levanta a cabeça e enxerga
o dono da voz – o presidente do Burrinha, homem dos mais valentes. Árbitro
ordena:
- Desce daí, Fenícius (Fenícius de
Moraes, o capo do time)! Que porra é essa de parada técna?
- Pra minha negada num morrer de
sede!!! – di-lo com a mão no cabo da peixeira.
- Tem razão, dotô! Tá coberto!
Detalhe: parada técnica somente
pros jogadores do Burrinha; os do Muricizal, sem bola em jogo, obrigados a correr
atrás dum guaxinim e botar o bicho na gaiola. Time da casa gentilmente levado à
carrocinha do vendedor de pastéis, tapioca, cuscuz, inhame, ovo estrelado,
panelada, paçoca e refresco, na beira do gramado.
- Empurrem o pau a comer! É por
conta! – ordena Fenícius.
Moçada de bucho cheio, agora tem
rodada de cana com Cinzano e passarinha assada. Burrinha volta a campo por
volta das cinco da tarde, sem um único jogador do time adversário num raio de
cinco quilômetros dali.
Na súmula, o estrondoso placar: 26
a 0. Burrinha, campeão invicto da temporada.
Dinheiro
pouco eu tenho muito
Zeca de Onofre pega o celular da neta Iedinha e olha, olha, olha. Ouve
a menina falar maravilhas, admira-se do preço, invoca-se com os mil e um
recursos. Espanta-se particularmente com o dispositivo que rastreia o aparelho
em caso de perda ou roubo. Indagado do rompante tecnológico, responde saudoso:
- Ah, um bicho desses no dia em
que me ariei no centro de Caucaia!
Como desarmar
raparigueiro
Angélica de Firmino convenceu o marido Coriolano a não sair de casa
naquele sábado à noite, dizendo ele que ia ver o Ferrim jogar no PV - ia era
raparigar! O que fez? Passou nas ventas dele a rede branca limpinha e cheirosa
e o lençol verde e perfumado com a foto da Juliana Paes, propondo assim:
- Te astreve, bebê?!?
Fonte: O POVO, de 1/706/2017.
Coluna “Aos Vivos”, de Tarcísio Matos. p.8.
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