quinta-feira, 15 de novembro de 2018

FEMINISMO


Meraldo Zisman
Médico-Psicoterapeuta
Feminismo, é movimento político daqueles que preconizam a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher, ou a equiparação dos seus direitos aos do homem. Do ponto de vista médico: é a presença, congênita ou adquirida, de caracteres sexuais secundários femininos em homem.
Assunto sobre feminismo sempre me atraiu. Razões as tenho, e de sobra, pelo ramo da medicina que abracei (pediatria), durante a maior parte de minha vida profissional e, agora, exercendo a Psicoterapia. Lidei com elas como mães, esposas, namoradas, colegas, amigas, companheiras, empregadas e patroas. Não menos com jovens, velhas, maduras, inteligentes, burras e, tenho encontrado nelas, das mais diferentes situações socioeconômicas e categorias sociais, um sentido de vida bem diferente do homem. Atendo, seus filhos e filhas, muitos deles e delas, agora, também, pais e mães.
As antigas mães de meus clientes de pediatria, me procuram para conversarmos e, algumas delas, tornam-se minhas pacientes. No caso, não por doença e, sim, para tirarem melhor proveito da vida nos tempos atuais. Algumas vezes, o pai, também me procura. Mas, é menos comum. Sorte a minha, se é que isto existe, de continuar convivendo com elas e eles, ainda que não assiduamente, mas, por mais tempo. A pediatria acaba, mais a amizade permanece.
Há mais mulheres em busca de psicoterapia, não porque exista, demograficamente, mais mulheres que homens, mas, porque as condições das mulheres evolucionaram-se, de tal maneira, que a camada do social, ou, do aprisionamento, foram rompidas e, jamais, em tempo algum, significaram e abrangeram tão intensa e rápida aberturas conseguidas, ainda que, à força.
Apesar de saber, que o caminho a percorrer é muito amplo, um vasto território a ser desbravado, perdura em perder-se na linha do infinito, mas, elas não se abatem.
Estes acontecimentos, jamais podem ser explicados por razões apenas demográficas e/ou psicossociais, econômicas e, muito menos, por razões de Mercado. Elas mudaram, sendo elas mesmas, as principais agentes da própria evolução e, com isto, arrastaram a dinâmica social para novos espaços, e, compreensivamente, desejam estar/ser mais adaptadas e adotantes à nova etapa que alguns respeitáveis intelectuais, denominam de Tempo Líquido. Pouco tem de líquido. É sólida e real. É verossímil.
Para as mulheres, esta história de pós modernidade não existe. Aprendi no meu tempo de escola, que o estado físico ou líquido de um corpo, como aquilo que flui ou corre, toma sempre a forma dos recipientes em que se encontra. Pelo que sinto, vejo e, escuto, a mulher d’agora, não é mais líquida como outrora, e sim, bastante sólida, como a mulher costuma ser.
De qualquer maneira, sem a emancipação feminina o que hoje vemos e assistimos, demoraria mais tempo para acontecer. A implicação do prolongamento /qualidade da vida, seria impossível, e, seria, no mínimo, insuportável sem elas e, sobretudo, a quebra de tabus pareceriam eternos.
Apesar disto, contado e provado, um dia desses, passeando pelo Google, o que me chamou a atenção, foi a repercussão, ainda enorme, de um livro de uma psicanalista mexicana-americana, não somente pela abordagem do assunto, e mais, pelo título: Mulheres que Correm com os Lobos - mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem; tradução de Waldéa Barcellos Rocco/ Rio de Janeiro/1999 - título original, Women Who Run With The Wolves / Copyright 1992, By Clarissa Pínkola Estés, Ph.D. No prefácio escreve a autora:
Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas.
Termino este comentário, com o que diz Millôr Fernandes, embora, também, não concorde com ele: "É a verdade, irmão. / É o que querem as mulheres,/ A cada dia que passa / Mais e mais estão/ Presas à liberação".
Não é verdade caríssimo Millôr! Você tem uma visão crepuscular do tempo! Elas lutam por uma melhor qualidade de vida para a Humanidade e, são, sem dúvida alguma, por natureza, persistentes e corajosas.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog