Editorial, de O Povo.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) acaba de publicar um estudo
no qual se assegura que os gastos públicos de municípios, Estados e da União
com a área da saúde não cresceram o suficiente para compensar as perdas com a
inflação, nos últimos dez anos. Dessa forma, o gasto por pessoa em 2017 ficou
em R$ 1,2 mil. Se o valor tivesse sido corrigido pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA) ano a ano, esse valor deveria ser de, no mínimo, R$ 1,8
mil por pessoa, ou seja, 41,65% a mais.
As
consequências dessa insuficiência de recursos seriam a queda nos indicadores de
saúde e as más condições de trabalho no setor. Na hipótese de se considerar ter
havido um aumento real no período entre 2008 e 2017, o conselho conclui que o
"valor continuou abaixo de parâmetros internacionais e tem sido
insuficiente para responder às demandas crescentes da população, impulsionadas
por mudanças nos perfis socioeconômico e epidemiológico" - o que
caracterizaria subfinanciamento do gasto público em saúde, no Brasil. Para
reforçar esse entendimento, a entidade calculou o que resultaria para o setor
caso os recursos da saúde tivessem sido corrigidos pela inflação, durante a
última década: o orçamento teria triplicado. Ou seja, só no ano passado teria
significado um acréscimo de R$ 110 bilhões, no investimento total.
Evidentemente,
o Ministério da Saúde reagiu a esse questionamento, duvidando da metodologia
utilizada pelo CFM, pois pelos seus cálculos teria tido, em 2017, uma despesa
per capita de R$ 1.320,48 - ou um aumento de 119%, em relação a 2008. Seja como
for (isto é, a diferença de metodologias utilizadas para quantificar o
problema), o fato inegável é que os serviços públicos de saúde, no Brasil estão
muito aquém do que seria desejável, embora o seu ordenamento - o Sistema Único
de Saúde (SUS) - seja um dos mais democráticos do planeta, tornando-se um
modelo referencial. O acesso universal que ele proporciona aos cidadãos é sem
igual.
O SUS é
o resultado de décadas de luta de um movimento que se denominou Movimento da
Reforma Sanitária. Foi instituído pela Constituição Federal (CF) de 1988 e
consolidado pelas Leis 8.080 e 8.142. Ele se funda no princípio constitucional
de que "a Saúde é direito do cidadão e dever do Estado", garantido
mediante (...) o acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação" (CF art.196). Sua filosofia não se resume a tratar
das pessoas doentes, mas também de impedir que elas adoeçam. Manter, reforçar e
ampliar esse sistema é a grande expectativa da população brasileira, que não
quer se desfazer dessa grande conquista. Cabe aos governantes eleitos
corresponderem a essa tarefa histórica.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 16/11/2018. Editorial. p.20.
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