quinta-feira, 1 de abril de 2021

PANDEMIA E EDUCAÇÃO PRESENCIAL

Por Sofia Lerche Vieira (*)

Sem aviso prévio a pandemia se instalou no mundo. De uma hora para outra, a vida mudou. Um ano se passou e cá estamos; às voltas com seus trágicos efeitos e impossibilidades.

Entramos em nova onda, sem saber se outras virão. UTIs superlotadas, toque de recolher e circulação limitada. Em meio a este cenário, por maiores que tenham sido os esforços dos governos e da sociedade, a educação tem sido refém de circunstâncias adversas.

Enquanto em muitos países o fechamento de escolas foi circunstancial, o Brasil passou ao ensino remoto sem maiores transições. Sem observar faixas etárias, crianças pequenas e maiores ficaram à deriva.

Aqueles com ajuda disponível em casa, puderam, de uma maneira ou de outra, se adaptar. Adolescentes ofereceram mais resistência. Universitários se ajustaram. E nada ficou como antes.

O acesso (ou não) ao ensino remoto explicitou de forma contundente as desigualdades entre as camadas de baixa e alta renda. Os alunos das escolas públicas foram mais prejudicados que os das escolas privadas. Não há distribuição de chip que resolva a falta de acesso a um dispositivo móvel em casa.

Se isso é verdade, importa perceber, contudo, que as perdas são de todos. Estudantes sofrem e irão sofrer por muito tempo os efeitos deletérios da privação do ensino presencial, sem contar aqueles que abandonaram a escola sem perspectiva de retorno.

Proprietários e pais de alunos de estabelecimentos particulares, com razão, reivindicam o retorno à normalidade das aulas. E por que não protestam diretores e pais de estudantes das escolas públicas?

Uma das razões está associada a questões sanitárias. Enquanto alguns países direcionam seus esforços a vacinar profissionais da educação, a exemplo do Chile, o Brasil desconhece os planos governamentais relacionados à população ainda não contemplada com qualquer tipo de imunizante.

Nesse contexto de incertezas cabe a pergunta: o que será da educação presencial? Radicalismos e protestos de rua não irão resolver o problema. A saída está no diálogo entre as partes envolvidas e muito, muito envolvimento das famílias neste debate. 

(*) Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uece e consultora da FGV-RJ.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 01/03/21. Opinião, p.20.

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