Por volta dos anos
setenta, um comandante de uma região militar entrou em contato com uma
companhia aérea, para notificar que sua filha enviara a ele do Rio de Janeiro o
seu cachorro de estimação.
Alertou sob os
cuidados que se deveria ter com o seu animal de estimação por quem ele nutria
uma afeição muito especial, exigindo que o mesmo, tão logo chegasse, fosse
levado ao quartel-geral que ele comandava.
A empresa, atenta às
recomendações do general, primou por todo o zelo e assim que o avião aterrissou
foram apanhá-lo no setor de cargas do aeroporto local.
Ao abrirem a caixa
contendo o cão, os funcionários viram que o animal estava morto.
Então, ambos
começaram a discutir a situação e telefonaram para a gerência da empresa, para
saber que providência caberia a eles tomarem.
Como se estava no
auge do regime militar pós-64, não era prudente aborrecer um oficial de alta
patente, e ademais era imperioso resguardar a empresa transportadora de
possíveis retaliação pelo infortúnio ocorrido.
Deliberaram, enfim,
retardar a entrega ao general, alegando atraso no embarque no aeroporto de
origem, enquanto mediavam uma forma de se safarem daquela constrangedora
situação.
Com se tratava de um
animal de raça bastante comum, um pastor alemão, adulto, de porte médio, se
valeram dos préstimos de amigos do Kennel Club da cidade e encontraram um
espécimen de muita similitude física com o cão falecido. Compraram-no a preço
de ouro.
Já com um discurso
afiado, para driblar a desconfiança do militar, apresentaram o canídeo
substituto ao pretenso proprietário, havendo um estranhamento mútuo entre dono
e possuído.
– Esse animal não é o meu. É parecido, mas não é o meu, com
absoluta certeza.
– General, esse foi cachorro que foi enviado por sua filha.
– A astúcia de vocês não vai me levar ao engodo.
– Ele está o estranhando, e não reconhece, certamente,
porque está muito estressado, pois foi uma viagem longa e cansativa, cheia de percalços no
trajeto.
– Não tem cabimento o que vocês tentaram fazer. O meu querido
cachorro morreu no Rio e minha filha me mandou o corpo para que eu o sepultasse
no sítio de nossa família, no município vizinho desta capital
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Ex-Presidente da Sobrames-Ceará
* Publicado In: SILVA, M. G. C. da (Org.). Ombro, arma! Médicos
contam causos da caserna. Fortaleza: Expressão, 2018. 112p. p.70-71.
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