Nos
anos sessenta, começaram a chegar, em Fortaleza, os primeiros mórmons
norte-americanos, via de regra rapazes jovens, que deixavam os EUA, quase
sempre procedentes do estado Utah, e que eram instados a passar pelo menos um
ano em outro país, no mais das vezes, um do terceiro mundo, para exercer um
trabalho missionário, com vistas à atração de novos fiéis para a sua grei.
Nestas
plagas e naqueles tempos, a sua maior atenção para conquistar adeptos, tinha
como foco pessoas mais abastadas, formadores de opinião, inclusive, como
médicos e professores universitários, a exemplo do Prof. Newton Teófilo
Gonçalves.
No
expedito esforço desse proselitismo religioso, esses garbosos rapazes, sempre
em dupla, (não confundir com a da polícia rotulada de “Cosme e Damião”),
passavam, sem anúncio prévio, de porta em porta, nas casas mais elegantes, e,
polidamente, pediam para falar com o chefe da família, tal como aconteceu com o
Prof. Newton, cuja lhaneza de trato justificava o hospitaleiro acolhimento.
Nessas
inoportunas visitas, os “boys” lançavam mão de uma série de argumentos,
anunciando os seus fundamentos religiosos e também as vantagens de ser
integrante da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, denominação
oficial do dito grupo confessional.
O
rol de justificativas, desfiladas uma a uma, não encontrava eco no perlustrado
médico, que refutava as investidas, deixando claro o seu não convencimento para
trocar de religião, justo a que ele professava desde que passou a ser gente.
Não
encontrando mais elementos essenciais para convencê-lo das vantagens de se
tornar mórmon, os visitantes apelaram para o último argumento, guardado como um
trunfo, à semelhança de uma carta escondida na manga da camisa, bem a propósito
para gerar um impacto, à conta do conhecido machismo nordestino.
– A nossa religião permite e até apoia ter
mais de uma mulher –
disse um dos insistentes rapazes.
– Como assim, meus filhos? Você quer dizer
mais esposas? –
Perguntou o professor educadamente.
– Sim. Se o senhor se converter, tornando-se
um mórmon, terá direito a ter quatro esposas.
– Ora, meus caros jovens, – retorquiu o professor – eu mal dou conta de uma, imaginem ter de assumir as
responsabilidades conjugais com quatro esposas, simultaneamente.
Diante
da resposta, os joviais norte-americanos recolheram os seus apetrechos, e
bateram
*
Publicado, originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos e
de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011. 112p. p.93-94.
Fonte: SILVA, M.G.C. da. A poligamia dos mórmons. In: SOBRAMES – CEARÁ. Sopro de luz. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2020. 364p. p. 241-242.
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