Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
A Quaresma nos
convida a cuidar da nossa vida interior. Para nós, cristãos, o tempo é precioso
demais para ser desperdiçado. "Deixa a vida me levar" não é opção de
vida para nós, cristãos.
A vida é
sempre uma travessia para o novo e desconhecido. Somos peregrinos,
num caminho de desafios que podem atrofiar a visão e nos colocar à margem do
caminho, sozinhos, sem perspectivas ou em um caminho repleto de sinais que nos
impulsionam para frente e preenchem nosso coração de ousadia.
O tempo da
Quaresma é para nós, cristãos, um privilégio, uma retomada do ritmo da marcha,
de esvaziar as mochilas do supérfluo, reabastecer-nos do essencial, retomar as
metas discernidas e assumidas diante de Deus.
O que dá
sentido ao tempo vivido é a atenção que damos ao nosso mundo interior. A maior
parte das pessoas vive ignorando a vida interior, esquecem que a vida de dentro
se revela na de fora. A vida interior precisa de tempo para morar no
silêncio.
Silêncio é
lugar de entrega e encontro. Esse tempo da quaresma nos chama a realizar uma
faxina interior e a nos desfazer das bagagens tóxicas que consumimos na rotina
agitada e estressante.
*A oração, a
esmola e o jejum* são atitudes do tempo da Quaresma. *A oração *é adentrar-nos
no nosso próprio interior para ouvir a voz de Deus*.* Mas, dificilmente podemos
entrar no interior se nos encontrarmos com o coração endurecido,
hermético, agitado.
*O jejum *é um
"olhar amoroso e vigilante" sobre e para si mesmo, uma tomada de
consciência sincera na direção da transformação profunda*.* Tem a
finalidade de nos possibilitar a experiência da falta*.*
Descobrir que,
além dos alimentos, é o Senhor da vida que nos nutre. O jejum e a
sobriedade favorecem a aproximação espiritual a Deus e aos irmãos que sofrem.
Diante de uma
sociedade que valoriza o ser humano em função do que consome -
"consumo, logo existo" - nosso jejum é o grito que anuncia que o ser
humano é valioso em si mesmo, porque assim o é para Deus.
A oração e o
jejum nos capacitam a compartilhar com os outros a generosidade que Deus
desperta. E isto tem um nome: esmola. Quanto mais vivemos em Deus, menos
somos nós o centro e mais nos doamos.
(*)
Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Diretor do
Seminário Apostólico de Baturité.
Fonte: O Povo, de 12/03/2022. Opinião. p.18.
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