terça-feira, 4 de outubro de 2022

CHAGAS DE AMOR

Por Pe. Reginaldo Manzotti (*)

A Devoção das Santas Chagas é muito antiga e tradicional na Igreja Católica. Essa devoção nasceu na Santa Cruz, no grande ato de amor, quando Jesus se entregou e levou nossos pecados sobre o madeiro.

É uma devoção cristocêntrica, quer dizer que o Senhor é o centro, e abrange o que é fundamental e o Apóstolo Paulo pregou com tanta veemência, a Paixão Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, chegando a dizer: se Cristo não tivesse ressuscitado vã seria nossa fé (1Cor 15, 14).

É por essa fé que todas às vezes que contemplamos as Santas Chagas de Jesus, nos deparamos com o grande mistério de Sua Paixão, Morte e Ressurreição, tudo o que Ele sofreu por amor. Então, essa devoção nos leva a centralidade da nossa fé.

É o que o Senhor desejou, pois tendo ressuscitado quis trazer no Seu corpo glorioso a marca das Cinco Chagas, como disse Santo Agostinho: "Cristo transpassado por nós e pregado com os cravos sobre a cruz, descido da cruz e sepultado, é a nossa salvação. Ele ressuscitou do sepulcro, curado dos ferimentos e mantendo as cicatrizes".

Se assim o quis é para que fosse eternamente lembrado no seu ato de amor, por isso Chagas de amor.

Após Ressuscitado, Jesus convidou os apóstolos a tocarem Suas Chagas para confirmar a Ressurreição. Confirmar na fé, particularmente a Tomé, mas também a todos nós. Na tradição da Igreja, o convite feito por Jesus foi entendido como extensivo aos fiéis de todos os tempos, não apenas para confirmar a fé na Ressurreição, como também para fixar mais intensamente o compromisso cristão e aperfeiçoar a gratidão pelo ato redentor do Senhor. Por meio da contemplação e da veneração das marcas amorosas de Seu martírio e, posteriormente, de Sua glorificação, nós retribuímos Seu gesto de amor com amor por Deus, por Ele e pelos irmãos. Assim surgiu essa devoção de grande relevância na vida cristã e na história da Igreja.

Nós não podemos ser uma geração do desespero, de pessoas frívolas, cristãos amedrontados, o que é pior, aquilo que São Pio dizia, pessoas impenitentes, isto é que não quer mudar, que não quer conversão. Confiemos no Senhor, reanimemos nossa fé.

Esta é também uma das devoções prediletas do Papa Francisco, que assim recomendou: "Há esta bela devoção de recitar um Pai-Nosso por cada uma das cinco chagas: quando rezamos aquele Pai-Nosso, tentemos entrar através das chagas de Jesus dentro, dentro, precisamente do seu coração. E ali aprendemos a grande sabedoria do mistério de Cristo, a grande sabedoria da cruz". E, ainda: "Não se esqueçam disto: olhem para o crucifixo, mas para dentro dele. Existe a linda devoção de rezar um pai-nosso para cada uma das cinco chagas: enquanto rezamos esse pai-nosso, procuramos ir entrando pelas feridas de Jesus até bem profundamente no Seu coração. E lá conheceremos a grande sabedoria do mistério de Cristo, a grande sabedoria da cruz" (Ângelus, de 18 de março/2018).

As Chagas do Senhor se abrem não mais como feridas a sangrar, feridas do seu martírio, mas como chagas a abençoar, feridas gloriosas da sua ressurreição.

(*) Fundador e presidente da Associação Evangelizar é Preciso e pároco reitor do Santuário Nossa Senhora de Guadalupe, em Curitiba (PR).

Fonte: O Povo, de 10/09/2022. Opinião. p.18.

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