Por Débora Liane Rabelo Vasconcelos Martin:
(*)
A espiritualidade é tema pouco explorado no âmbito profissional
da área de saúde. Tal assunto associado à saúde mental, corre o risco de ser
abordado unicamente no viés da teologia. Assim, faz-se necessário
desvendar a importância da espiritualidade / religiosidade (E/R) como forma de
enfrentamento das dores da existência humana e seu efeito na saúde mental.
O último censo do IBGE (2010) apontou que 89% da
população brasileira declara ter uma religião, evidenciando o importante papel
da dimensão religiosa na organização social. Esse dado aponta para a urgência
de profissionais da saúde mental considerarem a cultura religiosa do paciente,
não apenas como elemento de inserção social, mas como fator relevante para
obtenção de saúde.
Estudos do início do século XXI revelam menor risco de
mortalidade entre adultos saudáveis praticantes (E/R) comparados a
não praticantes. Igualmente, pesquisas realizadas com pacientes portadores de
doenças graves e terminais mostram que o conforto espiritual aumenta a
esperança de vida e diminui os índices de depressão, de ideias suicidas e de
desejo de morte breve.
A vivência da E/R surge da necessidade de respostas
a questões existenciais como "quem sou", "qual o meu
papel nesse mundo", "o que me faz verdadeiramente feliz", dentre
outras. As respostas e a reflexão sobre as questões conduzem a construção de
uma vida com um propósito. De acordo com o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, uma
vida com propósito contribui para o alívio de tensões e viabiliza a superação
de adversidades.
Embora no passado a E/R não fosse avaliada nos parâmetros
relativos à saúde mental, nas duas últimas décadas, esse tema foi alvo de
atenção. Mais recentemente, no Brasil, a relação E/R versus saúde mental foi
avaliada através de estudos realizados durante a pandemia de Covid-19.
Notou-se que a prática de E/R foi correlacionada a índices elevados de
esperança e baixos de medo, preocupação e tristeza, diante disso, faz-se necessário
considerar a E/R para a avaliação do ser humano em sua integralidade, como um
ser biopsicossocial e espiritual.
(*) Psicóloga e voluntária
da Associação Cruz da Vida.
Fonte: O Povo, de 25/09/2022. Opinião. p.20.
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