Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Não sei se é verdade, porém
dizem por aí que o povo com a maior ansiedade no mundo é o brasileiro.
O psicólogo norte-americano Steven Stosny escreve na
revista Psychology Today e fundou a
empresa “Compassion Power”. Além disso, é autor de vários livros sobre
autoconhecimento e relacionamentos. Apesar de se dedicar mais a casais
problemáticos, cunhou uma denominação para um novo tipo de ansiedade causada
pelo aumento da carga mental que seus pacientes e parte dos americanos sentiam
ao ver a disputa entre o republicano Trump e sua rival, a democrata Hillary
Clinton. Criou então o termo transtorno de estresse eleitoral (“election
stress disorder” em inglês). A condição é causada pela elevação da
ansiedade provocada pela discussão/agressões/ desavenças políticas.
Hoje, no Brasil, o aumento da violência política é um dos
fatores a impulsionar o debate sobre saúde mental, mormente tendo em vista o
acirramento dos ânimos causados pela imprensa, que parece querer apenas colocar
mais lenha na fogueira. Pesquisa do Datafolha mostrou que um em cada três
eleitores temiam atos de violência no segundo turno da disputa entre Lula (PT)
e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) independentemente do resultado
eleitoral. O que é sabido é que a violência política é gatilho para a depressão
e a ansiedade nas pessoas. Stosny assevera ademais que o estresse eleitoral é
uma tendência mundial e é veemente ao afirmar que, após as eleições no Brasil,
a condição não só permanecerá, como pode piorar. Para ele, esse não é um
fenômeno novo, mas foi potencializado pelo extremismo e pelas redes sociais.
Assevera ainda: “Sempre existiu, mas não era tão onipresente. Hoje você não
mais consegue dela fugir”. Ao perceber o quanto esse estresse estava
relacionado às notícias divulgadas pela mídia, ele chamou-o de transtorno do
estresse da manchete (“headline stress disorder“, em inglês).
A solução, aponta, está na mudança de comportamento em
nível pessoal, interpessoal e institucional — principalmente por parte da
imprensa, seja ela profissional ou social. Sempre existiram notícias ruins, mas
com as redes televisivas de notícias funcionado 24 horas por dia e os alertas
das redes sociais, o fluxo de más notícias tornou-se constante. E elas vêm
misturadas com as suas mensagens pessoais. Isso causa confusão. Você acaba
levando as notícias para o lado pessoal, sabe? Sinal disso é que você se sente
ansioso antes de assistir às notícias ou as notificações no seu celular. Se
você tem as notificações ativadas — o que eu não recomendo — você sente seu
corpo todo ficando tenso pouco antes de olhar para a tela do seu smartphone.
Isso é seu corpo lhe preparando para o estresse, lhe preparando para lutar uma
batalha.
Os últimos quatro anos foram uma chance de restaurar uma
velha visão do patriarcado onde o papel do homem na sociedade é prover para sua
família, cuidar dela e protegê-la. Já vivemos numa época na qual o patriarcado
está desaparecendo, devido à emancipação feminina.
Os questionamentos feitos pelos militares e usados pelo
presidente Jair Bolsonaro para reforçar dúvidas sobre o sistema eleitoral
brasileiro criaram um aumento da ansiedade sobre o final real das eleições.
Como a ansiedade aumenta mesmo com os resultados das eleições consagrado, o
medo da população permanece muito alto.
Não sei se é verdade, porém dizem por aí que o povo com a
maior ansiedade no mundo é o brasileiro.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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