Por Izabel Gurgel (*)
Weudes é um pintor que Juazeiro do Norte nos apresenta na pele da
cidade. Cito a pintura na parede da padaria Santa Liduina, na rua Padre Cícero
bem perto da Igreja de N. Sra. das Dores, a Matriz. É um ponto na constelação
de trabalhos do Weudes que nos olham quando menos esperamos encontrá-los (os
trabalhos) e encontra-lo (o Weudes). 'Onde está Weudes' pode ser uma rota
possível de apreciação da cacimba sempre cheia que é a cidade que se fez, a bem
dizer, de casas-ateliês, lugar de morada abrigando as mais diversas
dramaturgias de encenação cotidiana das manualidades.
'Onde estão os jasmins' pode ser uma convocação para apreciar uma
cidade. Em Fortaleza, oficialmente tão castigadora da flora - e, portanto, da
fauna, incluindo nós, ditas criaturas humanas - uma miríade de rotas para ver
jasmins pode nos oferecer frescor aos olhos, quase sempre castigadíssimos nos
cenários urbanos que parecem feitos como um elogio à perversão da desigualdade.
Vou pular os jasmins da UFC no Benfica e do jardim do Theatro José de Alencar,
no Centro. Trago dois que dá pra vc ver passando na rua, a pé, de bicicleta, de
ônibus e até do carro, se desacelerar.
Desacelere na mesma medida de quem acelera tão logo vê faixa de
pedestre e nós, pedestres, fazendo uso delas. Av. Antônio Sales, sentido Centro
- Cocó, vá olhando à esquerda e - esqueci o número, será que também a
localização? - usufrua do jasmim três ou quatro quadras depois das Dorotéias. O
outro fica no jardim da sede da Receita Federal, na rua Pereira Filgueiras.
Salto do jasmim-manga de lá, guardado que está na memória a copa
bordô em plena floração, e sigo a rota dos pés de tamarindo. Uma amiga foi à
feira e ganhei um bocado deles, do fruto. Está na época! Os tamarindos mais
importantes do Ceará, você sabe, estão na antiga rua das Almas, em Icó. Em
Fortaleza, tem no jardim do Palácio da Abolição. Não estou certa de ter comido
tamarindo no Paço Municipal, no Centro, mas em visita guiada à Praça das
Flores, escutei sobre voltar do colégio à hora do almoço e livrar a sede só de
pensar nos tamarindos, entre o chão e o céu. Um horizonte cada vez mais bonito,
necessário: o da copa das árvores. E comida como um bem público.
Lembrei agora de ouvir dizer, gente estudiosa falando, 'floresta
não se rega' e 'água se planta'. E nos oxigenando com experiências de
comunidades tradicionais, povos originários cuidando dos territórios onde
vivem. Um cuidado que torna possível, você sabe, a da Terra. O mundo é feito a
mão, uma artesania, em tempos tão diversos quanto o que o Weudes leva entre
receber e entregar uma encomenda de pintura e um sapotizeiro 'começar a dar',
como a gente diz.
Uma rota dos sapotis em Fortaleza? Quintais das casas de Artes e
Ofícios Tomás Pompeu Sobrinho, na Francisco Sá, e do poeta Juvenal Galeno, na
General Sampaio. Também no Centro, o da Vila das Artes, junto à Casa do Barão
de Camocim. Frutos da terra, do trabalho, do tempo.
Se for brincar de 'cadê Weudes' em Juazeiro, saiba que o
pesquisador Renato Dantas guarda uma seleta pronta para virar rota: notas sobre
pinturas públicas que dizem do surgir da cidade nos cruzos de três juazeiros. A
vida brota da vida.
(*) Jornalista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 15/10/23. Vida & Arte, p.2.
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